O dólar fechou a sexta-feira, 31, em alta, cotado em R$ 5,2170, mas terminou julho acumulando queda de 4,03%. Foi o maior recuo mensal do ano, superando a queda de 1,8% de maio.
Diferente de outros períodos, onde o real foi a moeda que mais se enfraqueceu no mercado internacional, este mês a divisa brasileira teve desempenho melhor que a maioria de seus pares. O enfraquecimento do dólar no exterior, para os menores níveis desde 2018, teve peso determinante. No mercado doméstico, o ambiente político menos tenso e o andamento da reforma tributária, que anima os investidores sobre o avanço de outras reformas, ajudaram o real a se destacar. A entrada de recursos externos para as várias ofertas de ações de julho também ajudou, especialmente em um momento de saída de capital de aplicações de renda fixa e variável.
O dólar chegou a encostar em R$ 5,40 este mês, mas com o enfraquecimento da moeda americana ganhando força, a pressão no câmbio aqui também se reduziu. Entre outros emergentes, o dólar caiu 3,2% no México, subiu 1,9% na Turquia e recuou 1,7% na África do Sul. No ano, porém, a moeda americana sobe 30% ante o real, 17% no México e 22% ante o rand sul-africano.
A elevada liquidez no mercado financeiro mundial, a percepção de que a retomada econômica dos Estados Unidos será mais lenta e a aprovação de um fundo de recuperação bilionário europeu, com a região crescendo mais que outras, estão por trás da desvalorização do dólar, ressalta a diretora de moedas da BK Asset Management, Kathy Lien. Ante o franco suíço, a moeda dos EUA caiu ao menor nível em 5 anos e ante o euro, em dois anos.
No caso do real, o analista do Canadian Imperial Bank of Commerce (CIBC), Luis Hurtado, ressalta que o avanço da reforma tributária, com o governo entregando sua proposta ao Congresso, contribuiu para o desempenho positivo da moeda. Mas a expectativa é que a aprovação vai ficar para 2021. Já a forte piora fiscal brasileira é fonte de preocupação e não permite manter muito otimismo com o câmbio, alerta Hurtado. Ele prevê que o dólar vai ficar acima de R$ 5,00 ao menos até o quarto trimestre de 2021. Neste terceiro trimestre, a moeda americana deve ficar ao redor de R$ 5,30. Para a reunião de política monetária do Banco Central na semana que vem, ele espera corte de 0,25 ponto porcentual na taxa básica, a Selic.
Por conta do aumento do endividamento público, que encosta em 100% do Produto Interno Bruto (PIB), o Bank of America alerta que o Brasil está entre os três mercados emergentes mais vulneráveis este ano, junto com África do Sul e Turquia. O banco americano também não vê o dólar caindo abaixo de R$ 5,00 no futuro próximo. A previsão é de R$ 5,20 em dezembro e R$ 5,00 ao final de 2021.