Quem lê a sinopse de Druk – Mais uma Rodada no site especializado em cinema e TV IMDb tem motivos para pensar que se trata de um filme de bêbados: "Quatro amigos, todos professores de ensino médio, testam a teoria de que suas vidas vão melhorar se mantiverem um nível constante de álcool no seu sangue". A bem da verdade, a primeira ideia foi por aí mesmo. "O álcool levou a grandes realizações na história", disse em entrevista ao <b>Estadão</b> Thomas Vinterberg, que concorre ao Oscar de direção. "Líderes mundiais, grandes escritores, pintores, músicos foram inspirados pela bebida. E eu não conheço nenhum casal que tenha se conhecido sóbrio. O álcool trouxe muito amor para o mundo. E, sim, ele mata pessoas e destrói famílias." O longa-metragem, que também concorre ao Oscar de produção internacional, é lançado nesta quinta, 25, no Brasil, nos cinemas que estiverem abertos e para compra nas plataformas de streaming (Now, iTunes/Apple TV, Google Play e YouTube Filmes).
O filme, no entanto, é bem mais do que o álcool. É sobre o "espírito" – "spirit", que é um sinônimo para bebida alcoólica em inglês, também significa espírito no sentido de alma, de elementos fundamentais do caráter de alguém, de fantasma. A palavra "spirit" também está contida em "inspiration", "inspiração" em inglês. "Minha mulher, que é sacerdote e muito mais inteligente que eu, fala do incontrolável. Quando você abandona o controle, pode encontrar a inspiração, pode se apaixonar, ter novas ideias. E é isso que esses caras arriscam, o controle de suas vidas."
Tommy (Thomas Bo Larsen), Nikolaj (Magnus Millang) e Peter (Lars Ranthe) transformam em projeto ajudar o amigo Martin (Mads Mikkelsen), que anda deprimido. Eles decidem colocar à prova a teoria – na verdade, mais um comentário do que ciência – do psiquiatra norueguês Finn Skårderud. Para ele, o ser humano tem um teor alcoólico no sangue 0,05% abaixo do ideal. Ao propor o projeto, Tommy, Nikolaj e Peter pretendem resgatar o espírito da juventude de Martin e, de quebra, os seus próprios. Eles não estão em situação muito melhor do que o amigo, sejam casados ou não, pais ou não. A única coisa que têm em comum é que estão todos na meia-idade. "As pessoas quando envelhecem são desvalorizadas pela sociedade", disse Vinterberg. "Ninguém respeita. E esses quatro homens perderam inclusive o respeito próprio."
O cineasta acha que existe uma camada a mais contribuindo para a crise de meia-idade, que é viver na Dinamarca. "O país foi chamado de lugar mais feliz do mundo, o que é uma bobagem. Como se mede a felicidade? Talvez seja o lugar mais seguro, o que oferece um componente de tédio. Esses caras estão enfadados, querem ter suas vidas de volta. É um filme de afirmação da vida, basicamente."
Vinterberg quer deixar claro que não se trata de autobiografia, nem dele nem de seus amigos Mads Mikkelsen e Tobias Lindholm, com quem divide o roteiro. "Minha vida até maio de 2019 era boa, inspirada. Tenho uma mulher maravilhosa, linda e inteligente, e filhos incríveis." Em maio de 2019, quando a produção de Druk – Mais uma Rodada tinha começado fazia uns dias, sua filha Ida morreu num acidente de carro, aos 19 anos de idade. "Isso ofuscou qualquer possibilidade de crise de meia-idade."
O longa virou uma espécie de tábua de salvação. "O cineasta Guillermo del Toro me perguntou outro dia se foi o filme que me livrou da insanidade. E achei uma maneira muito precisa de definir. Druk me afastou da queda livre. Virou um propósito fazer para ela, honrando sua memória." O espírito de Ida, que adorava o roteiro, estava presente.
A equipe e o elenco, formados majoritariamente por amigos, se juntaram em volta do diretor e não largaram sua mão. O espírito era de cooperação total. "Havia muito amor no set. Meus editores me disseram: Thomas, se a gente vai fazer isso, é preciso que seja maior do que quatro caras bebendo. E todos entramos em um acordo de melhorar e fazer um filme sobre o valor da vida. Não faria sentido se não fosse assim."
<b>Disputa no Oscar</b>
Druk – Mais uma Rodada
De Thomas Vinterberg (Dinamarca)
Better Days
De Derek Tsang (Hong Kong)
Collective
De Alexander Nanau (Romênia)
O Homem que Vendeu Sua Pele
De Kaouther Ben Hania (Tunísia)
Quo Vadis, Aida?
De Jasmila Zbanic (Bósnia e
Herzegovina)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>