Com influência da Geração de Ouro, Caio Pacheco troca Brasil pela Argentina

Bahía Blanca, distante 650 quilômetros da capital Buenos Aires, é uma cidade que respira basquete e de enorme contribuição na formação da Geração de Ouro da Argentina. De lá saíram nomes como Manu Ginóbili, Pepe Sánchez e Alejandro Montecchia, integrantes da equipe campeã olímpica em Atenas-2004. Agora surge outro jogador com potencial para ocupar um espaço de destaque no cenário mundial. E é um talento legitimamente brasileiro.

Natural de Rio Claro, interior de São Paulo, o armador Caio Pacheco, 21 anos, trocou um cenário de incertezas na base do Palmeiras por não existir time profissional no clube e topou o desafio de se mudar para o país vizinho. Após quase três anos na Argentina, o jogador de 1,89m era um dos destaques da forte liga argentina, pelo Weber Bahía Basket, até o torneio ser paralisado por causa da pandemia do novo coronavírus. Recentemente, ele colocou o nome do draft da NBA.

"Não ter uma equipe adulta muda muito. Desde que comecei no basquete, eu sonhava em ser profissional. Recebi esta oportunidade aqui e procurei agarrar. Naquele momento, achei que era o melhor", explicou. A chance pintou com ajuda de um amigo Rafael Paulichi, que já havia feito um teste no Bahía Basket. "Eles foram acompanhar um treino para vê-lo, jogávamos no mesmo time, eles também precisavam de um armador para atuar na Liga de Desenvolvimento e iniciamos uma conversar. O Pepe pediu um vídeo e, no fim, deu certo."

O tal Pepe, citado por Caio, para quem não ligou o nome ao sobrenome, é Pepe Sánchez. O armador campeão olímpico é o idealizador do projeto do Bahía Basket e atua como presidente do clube. A influência da Geração de Ouro é diária. O brasileiro trabalhou ainda com Alejandro Montecchia, outro integrante daquela equipe. Irmão mais velho de Manu Ginóbili, Sebastian, foi outro que ajudou no crescimento do jogador.

"É um privilégio ter um cara como ele (Pepe) sempre perto. Às vezes fico até com um conflito na cabeça, porque sou muito fã e, ao mesmo tempo, ele é o dono do clube. Ele está sempre conosco, conversando, passando dicas, ensinando. Sabe tudo sobre o jogo e, por isso, sempre estou procurando absorver tudo o que posso."

Sobre outro ídolo que conheceu na Argentina, Caio conta que foi necessário um segundo encontro para conseguir registrar o momento. "Eu travei, não consegui pedir uma foto para o Manu (Ginóbili), apenas cumprimentei e não falei nada", relembrou. O destino concedeu uma segunda chance. "Ele foi ver um jogo, ganhamos e fui bem. Ele foi ao vestiário, disse para mim que gostou do que viu e aí tirei uma foto."

O que o Ginóbili viu naquele dia foi um jogador que evoluiu muito fisicamente ao deixar o Brasil e ir atuar na Argentina. Caio ganhou força sem perder agilidade, jogando sempre com muita agressividade na direção da cesta. Antes da paralisação da liga argentina, o armador era o segundo em pontos, com média de 19,1, e o primeiro em assistências, com seis por jogos.

As atuações renderam comparações com Facundo Campazzo, armador titular do Real Madrid e da seleção da Argentina vice-campeã do mundo em 2019. Caio gosta também do estilo de Trae Young, do Atlanta Hawks, sem esquecer de citar referências nacionais, como Marcelinho Huertas.

Não há chance de ele debandar para o lado argentino. Como já atuou na base pela seleção brasileira, quando conquistou duas vezes o título sul-americano -, o armador só pode defender o Brasil. "Sempre foi meu sonho vestir a camisa da seleção brasileira adulta. Nunca cogitei coisa diferente. É um sonho, assim como jogar na NBA ou na Europa", afirmou.

A liga americana pode ser o próximo passo da carreira. Com o draft sob influência da pandemia, as franquias, por ora, não poderão realizar treinos com os atletas e isso pode favorecer o brasileiro no processo. "Não sei como será o draft. O momento que estamos vivendo não é fácil, temos de esperar como vai evoluir o vírus. Ainda não tive contato com nenhuma equipe, deixo isso para os meus agentes, mas, quando chegar o momento, vou saber."

Caio se prepara para o futuro em Rio Claro, onde nasceu e se apaixonou pelo basquete por influência dos pais Álvaro e Ana Paula, que foram atletas. O número 9 na camisa é uma homenagem ao pai, que defendeu o Palmeiras por 17 anos. A família, que tem ainda o irmão Cauã, de 15 anos, está gravada na pele, com tatuagens no braço direito, e é responsável por ele seguir alimentando o sonho de ser mais um brasileiro na NBA, só que desta vez com um caminho de forte influência da Geração de Ouro da Argentina.

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