Em apenas uma semana, o jovem tenista Thiago Wild passou de convidado desconhecido a campeão do Torneio de Santiago. O atleta de 19 anos surpreendeu a todos, inclusive a si mesmo, e ganhou rápida notoriedade no mundo do esporte no início do mês. Duas semanas após sua primeira conquista na elite do tênis mundial, ele ainda se diz surpreso e tenta manter a cautela diante das comparações com referências do esporte, como o espanhol Rafael Nadal e o compatriota Gustavo Kuerten.
"Claro que eu já tinha esse objetivo de conquistar meu primeiro ATP na cabeça. Mas não esperava que fosse acontecer tão cedo. Até me surpreendi com isso. Agora vou tentar tirar o melhor disso", disse o tenista, em entrevista ao <b>Estado</b>. "Fui levando jogo a jogo, pensando no próximo dia e não olhando mais para a frente. Não pensava faltam quatro jogos para ganhar o torneio".
A estratégia deu certo. Ao levantar o troféu no saibro de Santiago, Wild não apenas quebrou um jejum de cinco anos sem títulos do Brasil em jogos de simples no circuito profissional. Ele se tornou o mais jovem do País a obter uma conquista na elite do tênis mundial, superando Guga, campeão pela primeira vez aos 20 anos.
As comparações surgiram, então, naturais. "O Guga é meu ídolo. Sem sombra de dúvida, é o maior tenista da história do Brasil. Além disso, é um símbolo do tênis mundial. Mas acho que me comparar com ele chega a ser um pouco precipitado", disse Wild, que recebeu mensagem de parabéns do ídolo. "A história dele não é de qualquer um. Não é qualquer um que vira número 1 do mundo e ganha três títulos de Grand Slam."
Os mais empolgados foram além e até lembraram de feitos de Rafael Nadal. Wild se tornou também o mais jovem a vencer uma competição da gira da América Latina desde o espanhol, campeão em Acapulco em 2015, com apenas 18 anos. "Ele é o meu ídolo também, sempre foi", apontou o brasileiro.
O paranaense, nascido em Marechal Cândido Rondon, mantém os pés no chão diante dos recentes elogios. "Na verdade, o atleta que começa a se despontar, a ter bons resultados, ele precisa saber manejar, saber lidar com a pressão, com as expectativas e tudo o mais." O importante, para Wild, foi a confirmação do trabalho realizado há alguns anos. "Foi a realização de um sonho ganhar o primeiro ATP. E a concretização de um trabalho. Mostrou que estou no caminho certo, numa linha de trabalho boa."
O bom trabalho pode ser atribuído também ao técnico João Zwetsch, que treinou Thomaz Bellucci em seu auge e foi capitão do Brasil na Copa Davis. O experiente treinador viu em Wild potencial para brilhar, mas percebeu que o talento costumava ser ofuscado pelos arroubos de irritação do jovem tenista em quadra.
Por isso, Zwetsch orientou há dois meses a contratação de um psicólogo para ajudar o novo talento brasileiro. "Já estou conseguindo me sentir melhor em quadra. Estou mais tranquilo. Com certeza, o título já tem a ver com este trabalho", avaliou Wild, único brasileiro a ser campeão da chave juvenil do US Open, em 2018.
Com seu primeiro título na ATP e a subida no ranking, o 114º do mundo deve receber boas oportunidades no circuito e até novos apoios e patrocínios. Mas ele evita adiantar seus planos. Certo é que terá a chance de disputar torneios ainda maiores na temporada. "Preciso falar com o meu treinador sobre o calendário, principalmente após o cancelamento de tantos torneios."
Como aconteceu em diversas modalidades, o tênis também foi atingido pela pandemia de coronavírus. Nesta semana, a ATP anunciou o cancelamento dos torneios por um período de seis semanas, por precaução. "Acho que o coronavírus tem que ser levado mais a sério. Essa tem que ser a prioridade. Até porque, se metade do circuito for infectado, não vai ter mais com quem jogar."