Apesar de o presidente Jair Bolsonaro ter recomendado, por causa da pandemia de coronavírus, o adiamento dos atos a favor do governo, que estavam previstos para este domingo, 15, no Brasil, manifestantes foram às ruas. Cidades como Brasília, Rio de Janeiro, Belém, Maceió e Juiz de Fora já registram mobilizações, ainda que esvaziadas em algumas delas.
O próprio presidente deixou o Palácio da Alvorada e, em comboio, passou ao lado de ato em Brasília e depois cumprimentou apoiadores no Planalto. Ele foi orientado a ficar em isolamento até refazer testes para o coronavírus, como informou o Estado na sexta, 13. Bolsonaro não desceu do carro e só foi visto na volta, acenando para apoiadores que o aguardavam na residência oficial.
Bolsonaro compartilhou vídeos e fotos sobre as manifestações no Twitter. Em uma delas, sem autoria, era possível ler faixas Fora Maia, em referência ao presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), Fora STF e SOS Forças Armadas. Bolsonaro identificava a imagem como sendo de Maceió, Alagoas. A foto foi apagada da conta de Bolsonaro.
O primeiro vídeo compartilhado por Bolsonaro mostra motoqueiros vestidos de verde e amarelo em Belém, no Pará, e foi publicado originalmente na conta do deputado federal Éder Mauro (PSD-PA), com a hashtag #BolsonaroDay. Num segundo vídeo, em que a cidade e a autoria das imagens não são identificadas, pessoas aparecem em jet skis empunhando bandeiras do Brasil. Outro vídeo mostra manifestantes no ato esvaziado em Brasília, onde a organização dos atos optou por promover uma carreta para evitar o contato próximo de pessoas.
No Rio de Janeiro, os manifestantes que ignoraram os pedidos para evitar aglomerações se reúnem num espaço de cerca de um quarteirão na praia de Copacabana. A maioria dos presentes são idosos, faixa etária mais suscetível às consequências do novo coronavírus.
Em cima do carro de som, o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ) minimizou os possíveis efeitos da proliferação do coronavírus em aglomerações. "O verdadeiro coronavírus que mata é a corrupção nesse país", disse ele, que quer o apoio de Bolsonaro para disputar a Prefeitura do Rio.
Esse discurso, inclusive, foi endossado por mais de um participante. Em um dos carros, um homem usava essa retórica para convencer os manifestantes a assinarem fichas de filiação ao Aliança Pelo Brasil, partido que a família Bolsonaro pretende criar.
Os poucos que usam máscaras aproveitaram a ocasião para personalizá-las. A versão mais vista é uma com os dizeres "Canalhas Vírus: Congresso Nacional". Os cartazes dos manifestantes têm como alvo o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Um homem carrega um banner em que pede a destituição da Corte, a "limpeza total" do Parlamento e a instauração de um novo AI-5. Ele usa um boné dos Estados Unidos.
Já uma senhora próxima a ele levanta um cartaz de cartolina em que pede para o Exército assumir o País. Há no ato, inclusive, a réplica de um veículo militar no qual os manifestantes sobem para tirar fotos.
Contra o Congresso, um dos cartazes mais comuns no Rio tem o rosto do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, com "F*" escrito.
Outro alvo nesta manhã no Rio é o governador Wilson Witzel, ex-aliado e hoje inimigo político de Bolsonaro. Do alto do carro de som, um representante do Movimento Brasil Conservador chamou Witzel de traidor e promoveu um "pisaço" numa bandeira com o rosto dele ao som da música tema do filme Tropa de Elite.
Por volta das 10h40, um morador de um prédio em frente ao ato pendurou na janela uma bandeira do PT. Os manifestantes viraram para o edifício, vaiaram e entoaram músicas contra o ex-presidente Lula e gritos de "Vai pra Cuba". A presença mais inusitada nesta manhã é a de um cavalo branco levado por um manifestante.
<b>Desculpa, Jair, mas eu vou</b>
Em pronunciamento oficial na quinta-feira, 12, em meio às suspeitas de que havia contraído o coronavírus, Bolsonaro sugeriu que as manifestações fossem adiadas. Apesar do pedido, apoiadores do presidente iniciaram nas redes sociais um movimento "Desculpa, Jair, mas eu vou", convocando a população para as manifestações pró-governo em meio ao risco de disseminação do coronavírus entre os participantes.
Segundo o último levantamento disponibilizado pelo Ministério da Saúde neste sábado, 14, o Brasil tem, neste momento, 121 casos confirmados de pessoas com coronavírus, e outros 1.496 casos suspeitos. São Paulo lidera o ranking com 65 casos confirmados.