O câmbio teve novo dia de forte volatilidade, que só se reduziu após o Banco Central fazer intervenção no mercado. Com o real muito descolado de seus pares emergentes, por conta de incertezas domésticas, principalmente com a questão fiscal, da vacinação da população contra a covid e da declaração do presidente da República, Jair Bolsonaro, que o País está "quebrado", o BC vendeu US$ 500 milhões em novos swaps (venda de dólar no mercado futuro) no meio da tarde, sua primeira ação do tipo em 2021.
Com o leilão, a moeda americana passou a operar abaixo de R$ 5,30, mas o movimento perdeu força perto do fechamento, com as cenas de manifestantes a favor do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tentando invadir o Capitólio em Washington. Os parlamentares faziam a certificação das eleições americanas, que normalmente eram apenas um ato burocrático, mas nesta quarta-feira, 6, tiveram que ser suspensas, por causa das manifestações, que questionam a legitimidade do resultado das urnas.
Washington decretou toque de recolher a partir das 20 horas (de Brasília). Com as cenas, o mercado acionário em Nova York piorou e o dólar passou a ganhar força no mercado internacional.
No fechamento, o dólar à vista encerrou com alta de 0,80%, cotado em R$ 5,3024. No mercado futuro, o dólar fevereiro fechou em alta de 0,54%, a R$ 5,3215.
Para o estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, o mercado de câmbio está muito volátil e tende a seguir assim, na medida em que há uma série de incertezas domésticas, que têm limitado a queda do dólar aqui. Dúvidas se acumulam sobre o compromisso do Planalto com o teto de gastos, a volta do auxílio emergencial, as eleições na Câmara e no Senado e o processo de vacinação contra a covid, que avança em outros países, mas não aqui.
Conforme o processo de vacinação ganhe corpo no Brasil e a questão fiscal fique mais clara, Cruz destaca que o real pode se valorizar, aproveitando a tendência de enfraquecimento do dólar no mercado internacional. Nesta quarta, mesmo após a tensão política em Washington, o dólar caiu ante a maioria dos emergentes, com a visão de que um Congresso na mão dos democratas pode acelerar medidas de estímulo fiscais no país. A RB vê chance de o dólar cair a R$ 4,80 ao final do ano, mas para isso é preciso firmeza fiscal do governo.
Com a volatilidade, e o foco no fiscal, nem mesmo captações brasileiras tiveram impacto no câmbio. A Klabin está emitindo US$ 500 milhões em bonds sustentáveis e, segundo fontes, houve forte demanda. Já o BTG Pactual fechou na tarde de hoje emissão de US$ 500 milhões. Apesar da recuperação dos fluxos externos para a B3 e captações, o País fechou dezembro com fluxo cambial negativo de US$ 8,4 bilhões, informou o Banco Central. No canal financeiro, houve saída líquida de US$ 4,4 bilhões.