Sem poder competir no Circuito Mundial, cancelado em razão da pandemia do novo coronavírus, os surfistas brasileiros vão poder matar a saudade das competições neste domingo. Filipe Toledo, Adriano de Souza e Tatiana Weston-Webb terão a oportunidade de disputar uma exibição na piscina de ondas de Kelly Slater, na cidade de Lemoore, nos Estados Unidos. Ao todo, o evento vai reunir 16 surfistas da elite mundial.
Mesmo sendo uma competição de exibição, com as premiações revertidas para caridade, será a primeira disputa envolvendo os surfistas neste ano. O Circuito Mundial teve seguidas etapas suspensas até que a direção da Liga Mundial (WSL, na sigla em inglês) decidiu cancelar de vez a temporada no mês passado.
"Será ótimo competir novamente, colocar a Lycra do Brasil… Você não tem ideia de como sinto falta disso", disse Tatiana ao Estadão. "Vai ser bem legal poder voltar a competir, colocar a lycra de volta, ter aquela emoção, a sensação boa. Não vejo a hora de fazer o que eu amo e, se Deus quiser, já poder vencer e seguir no foco".
Na exibição, os surfistas serão divididos em oito duplas mistas, que vão se enfrentar em sistema de "mata-mata", a partir das quartas de final. Tatiana vai formar dupla com o japonês Kanoa Igarashi, Filipinho competirá ao lado da havaiana Coco Ho e Adriano de Souza, o Mineirinho, terá como parceira a americana Caroline Marks.
Os 16 atletas convidados para o evento têm algo em comum além da paixão pelo surfe. Todos já estavam em solo americano nos últimos meses. Assim, foi mais fácil para a organização criar uma "bolha" ao redor do rancho de Kelly Slater, como fizera a NBA em Orlando. Também não foram convidados surfistas que estavam fora dos Estados Unidos por causa das barreiras criadas pelo governo para a entrada de estrangeiros durante a pandemia do novo coronavírus.
"Passamos pelos protocolos da covid-19, testes, isolamento, e no final valeu a pena. A semana na bolha, como estão chamando, foi bem legal. Uma experiência diferente", disse Filipinho, vice-campeão nas duas etapas do Surf Ranch no Circuito Mundial, em 2018 e 2019. Assim como os demais surfistas, ele já está em Lemoore há mais de uma semana.
Filipinho, Tatiana e Mineirinho aproveitaram a estada em solo americano para surfar no mar, algo impossível para os brasileiros nos primeiros meses da pandemia. "As praias fecharam por aqui por um mês. Mas, depois que abriu, surfamos todos os dias, com todas as precauções. Deu para manter o treino", disse o brasileiro, que mora na Califórnia e costuma surfar em Trestles.
"Como todo mundo, para manter o preparo, continuamos a treinar em casa todo dia, via Zoom e outros aplicativos. Para poder manter o shape, com tudo fortalecido para o retorno", contou Filipinho. "Mesmo com o circuito cancelado, o foco continua o mesmo: treino. Não para. O foco em ser campeão mundial continua. Tenho mais tempo para poder treinar, melhorar e evoluir".
Mineirinho ficou quase dois meses sem cair na água. "Fiquei praticamente dois meses trancado em Florianópolis, no início. Depois viajei para os Estados Unidos. Por aqui, graças a Deus, as praias não foram fechadas e eu consegui treinar normalmente", comentou Mineirinho, ao Estadão. "Nos EUA agora tenho praticamente uma vida normal, treinando e surfando".
Com dificuldades no início, Tatiana também conseguiu manter os treinos no mar, no Havaí, onde mora. "Graças a Deus no Havaí a situação foi super controlada. Até mesmo porque, sendo uma ilha, acho que fica mais fácil o controle de quem entra e sai, né? Tivemos algumas dificuldades no começo, mas logo a praia foi reaberta para o surfe".