A contratação de Robinho pelo Santos teve impacto negativo nas redes sociais, mas atletas e dirigentes do clube saíram em defesa do jogador. Condenado por estupro em 1ª instância, na Itália em 2017, o atacante entrou com recurso na Justiça e responde em liberdade. Seu retorno ao futebol brasileiro (ele estava na Turquia) volta a colocar o caso no centro de discussão.
"O impacto dessa contratação já aconteceu. Tão logo a notícia começou a circular o debate foi iniciado. Houve, de uma maneira geral, posicionamento contrário", disse a historiadora Diana Mendes, pesquisadora da formação do futebol brasileiro. "O que vejo por trás dessa demanda contrária é a sensação de impunidade que nos persegue em relação à violência cometida contra as mulheres. O futebol é o espelho amplificado do que acontece na sociedade, nessa hora o futebol figura como uma espécie de catalisador da questão de violência que a gente vê fora do futebol", acrescentou Diana.
Para Marco Bettine, professor associado da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e Pós-Doutor em Sociologia do Esporte pela Universidade do Porto, a rejeição é um sinal de que existe um movimento organizado para lutar contra a cultura machista e patriarcal.
"A sociedade está evoluindo, e nesse momento está se construindo um bloquinho para mudança estrutural nesse sentido. O caminho é a sociedade civil organizada, mais do que os políticos. A existência dessas ações a curto prazo, com a imprensa e as pessoas colocando luz nessa ação já pode ser visto como uma grande conquista."
Por outro lado, Bettine aponta que o caminho ainda é longo, tanto que o Santos ignorou a pressão e decidiu trazer o jogador. "Serão necessários vários casos de Robinhos e Marielles (Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 2018) e de outras tantas mulheres estupradas para haver uma mudança profunda na sociedade."
Integrante da Sempreviva Organização Feminista (SOF) e militante da Marcha Mundial das Mulheres, Maria Fernanda Marcelino, disse que não basta apenas ação da polícia e da Justiça para combater a violência contra mulher. É preciso mobilização de toda a sociedade, do futebol inclusive. "Em sã consciência ninguém supostamente defende a violência contra as mulheres. Para acabar com essa violência é necessário um pacto de toda a sociedade. Uma pessoa tem direito de cumprir a pena e superar isso. Mas a pena tem que ser cumprida. É um problema de toda a sociedade. Tem que haver o compromisso de todos, de não ignorar que uma violência brutal como o estupro aconteceu", disse.
O retorno de Robinho ao Santos aponta também uma incoerência, já que o time participou de campanhas de combate à violência contra a mulher no ano passado e tem se posicionado a favor de outros movimentos sociais. "Se ele for um destaque a imagem negativa se dissipa. Mas se for um fracasso, certamente o aspecto moral será utilizado pelos seus críticos", disse Luiz Carlos Ribeiro, coordenador do grupo de estudos de Futebol e Sociedade da UFPR.
Responsável pela articulação que viabilizou a contratação de Robinho, Marcelo Teixeira, presidente do Conselho Deliberativo do Santos, pediu cautela com as críticas. "Acho precipitadas. Já está se pré-julgando uma situação. O clube está entrando com boa fé. Está contratando um jogador com identidade com o clube. Caberá a ele e seus representantes fazer o trabalho fora de campo. Pode ser que as mesmas pessoas contrárias podem ter outra posição diante daquilo que aconteça na Justiça. Não podemos antecipar fatos do que vai acontecer na Justiça", disse ao Estadão.
O técnico Cuca também defendeu Robinho. "Pessoa de caráter maravilhoso. Sem dúvida alguma vai nos ajudar."