O jazz e o cinema sempre trilharam caminhos que com grande frequência se cruzam para produzir imortais obras de arte. Seja na temática dos roteiros (Por Volta da Meia-Noite), como pano de fundo para enredos de amor (Susie e os Baker Boys), em cinebiografias (Bird) e em trilhas sonoras refinadas (Ascensor para o Cadafalso), grandes cineastas recorreram ao estilo musical mais libertário e inovador de todos os tempos para abrilhantar seus filmes. Agora, com o propósito de homenagear o centenário de Federico Fellini, o músico brasileiro Lupa Santiago resolveu percorrer o sentido contrário: produzir jazz a partir da obra do mestre italiano.
"O jazz instrumental tem uma coisa muito visual", diz Lupa, que sobe ao palco do Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, em São Paulo, no domingo, dia 2, junto com instrumentistas que interpretarão em linguagem jazzística clássicos do repertório de Fellini. É o projeto Nas Telas do Jazz – Cinema Europeu. A base do espetáculo é o compositor italiano Nino Rota (1911-1979), que começou a trabalhar com música para cinema nos anos 1940 e foi grande parceiro do cineasta.
A ideia do espetáculo, diz Lupa, nasceu durante recente turnê em Israel, onde, a convite, o músico brasileiro interpretou temas do filme Dona Flor e Seus Dois Maridos. "Achei a ideia simplesmente fantástica e resolvi adaptá-la no Brasil, até como forma de comemorar meus 20 anos de carreira." Gravado em abril de 2000, no BlueJay Studio em Carlisle, Massachusetts (EUA), o primeiro trabalho do instrumentista tem o sugestivo título de Images e foi indicado para o Grammy Latino. Também em fevereiro, Lupa lançará um pequeno documentário sobre sua trajetória e fará shows ao longo deste ano na casa JazzB para marcar as suas duas décadas de atividade.
Sobre sua relação com o cinema, o instrumentista diz que Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore, está entre os seus filmes prediletos. "É uma obra fantástica, mesmo não tendo a direção de Fellini, a música do filme não poderia ficar de fora do espetáculo, ainda que tenha sido composta por Ennio Morricone, e não pelo Nino Rota", conta Lupa. Outra licença poética foi concedida ao tema de O Poderoso Chefão, também do compositor italiano. "Nesse caso tivemos mesmo de abrir uma boa exceção porque se trata de um filme norte-americano."
Da obra de Fellini não poderiam faltar os temas de A Doce Vida, Julieta dos Espíritos e 8 1/2. Lupa (guitarra) é o diretor artístico do espetáculo e estará acompanhado pelos músicos Paulo Braga (piano), Vanessa Moreno (voz), Edu Ribeiro (bateria), Sidiel Vieira (contrabaixo), Vitor Alcântara (sax alto/flauta), Daniel DAlcântara (trompete), Sidnei Borgani (trombone) e Cássio Ferreira (sax tenor/flauta). Os arranjos são de Rodrigo Morte.
<b>SERVIÇO</b>
NAS TELAS DO JAZZ
SESC PINHEIROS – TEATRO PAULO AUTRAN
RUA PAES LEME, 195, TEL. 3095-9400.
DOM. (2/2), ÀS 18 HORAS
R$ 12, R$ 20 E R$ 40
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>