Numa cena de Bad Boys para Sempre, o terceiro filme da franquia iniciada em 1995, Mike e Marcus lembram o que foram esses 25 anos. Pauleira, sempre; amizade – acima de tudo. Nos cinemas dos EUA, o 3 entrou arrebentando. No Brasil, a expectativa da Sony é de alto faturamento, e aliás, neste começo de ano, a empresa só tem tido motivos para comemorar. Jumanji – Próxima Fase estreou com 8% mais de público que o anterior, Adoráveis Mulheres, um filme menor, considerado de arte, rapidamente está batendo nos 200 mil espectadores e agora a dupla Will Smith/Martin Lawrence. Claro, nada disso se compara ao fenômeno Paulo Gustavo, que já se converteu na maior bilheteria – em volume de dinheiro – do cinema brasileiro e tudo indica que vai ultrapassar os 10 milhões de espectadores com Minha Mãe É Uma Peça 3.
Bad Boys pertence à vertente dos buddy cup movies, que inclui outra série, Máquina Mortífera. Quem não se lembra de Riggs e Murtaugh, interpretados por Mel Gibson e Danny Glover? O tira doidão e seu parceiro que só pensa em desacelerar – em aposentadoria? A situação agora se repete. Marcus/Lawrence aposentou-se para cuidar do neto, mas Mike/Smith vira alvo de uma implacável caçada humana e o chama para uma última missão. Voltará Marcus à ativa para ajudar o amigo? E quem é esse misterioso motoqueiro vestido de preto que provoca uma onda de assassinatos em Miami e ainda lança Mike no coma, com Marcus velando em sua cabeceira? Sabemos – nós, o público – que ele se chama Armando Armas e age impulsionado pela mãe, movida por implacável desejo de vingança. Para o filho, ela vende a versão de que Mike foi responsável pela morte de seu pai, e por isso o faz prometer que ele será o último de uma série de inimigos do pai abatidos com mão justiceira. Mas não é bem assim. A mãe é uma bruja e possui um segredo – olha o spoiler – que Mike vai decifrar, estabelecendo uma conexão inesperada com o garoto duro de matar.
Vale viajar no tempo. Em Cannes, em 1995, o repórter foi ao escritório da Sony, que ainda era Columbia, para agendar uma entrevista. A assessora, à beira de um ataque de nervos, pediu-lhe, por favor, que ele falasse com um diretor que estava ali escanteado, sem filme no festival, mas que diabo? Seu longa de estreia, o primeiro Bad Boys, estava batendo recordes nos EUA e Michael Bay – seu nome – estava ali à deriva, sem ninguém querendo entrevistá-lo. OK, vamos lá. Bay revelou-se um ótimo papo, e para início de conversa podia ser estreante em Hollywood, mas era um veterano da publicidade que ganhara um monte de prêmios ali mesmo em Cannes, no festival da categoria. Bay revelou coisas interessantes. Como Stanley Kubrick, acreditava que cinema é montagem. 2001, Uma Odisseia no Espaço era o melhor filme que havia visto, com aquele embate entre homens e máquinas – só 12 anos depois, em 2007, Bay criaria outra franquia, Transformers, propondo a sua visão do tema. Admitiu que nunca vira um carro que não quisesse destruir – no cinema.
Virou uma marca. Bad Boys, o 1, tinha rachas espetaculares, perseguições de cortar o fôlego. Quando fez Bad Boys II, em 2003, Bay conversou de novo com o repórter. Na época, os irmãos Wachowski haviam feito Matrix e ele ironizava – qual era a graça de construir uma rodovia especial para filmar perseguições e destruir carros? A adrenalina de Bay era fechar o trânsito em ruas e estradas e filmar o perigo com hora marcada, porque o trânsito precisava fluir, imediatamente. O II, é verdade, não foi tão bom, nem a química entre Smith e Lawrence. O que levou a uma situação no mínimo curiosa – quando foi anunciado o 3 – Para Sempre -, a expectativa era baixa e havia até gente perguntando se havia necessidade de um novo Bad Boys?
Contra todos os prognósticos, o filme é o melhor de todos. Nada que vá abalar o Oscar, ou deva competir por estatuetas, como 1917 e Coringa, que, afinal de contas, também são mainstream. Como diversão, Bad Boys tem tudo – ação, humor, pauleira, sexo, romance e um imenso etc. Nesse etc. pode-se incluir um drama familiar. E, sim, já que Michael Bay não é mais o diretor, é bom saber quem está agora no comando.
É uma dupla – Bilall Fallah e Adil El Arbi. Quem são esses caras? São diretores belgas de cinema e TV. Ficaram conhecidos com Black, de 2015, um filme de gângsteres sobre jovens que querem se apaixonar, mas são impedidos no choque entre gangues. Fallah e El Arbi, com certeza, viram os filmes da franquia Velozes e Furiosos e, se não eles, Will Smith deve ter pensado muito no que deu errado no filme que deveria ter sido seu megassucesso anterior, Projeto Gemini, mas não foi. Um grande diretor como Ang Lee, uma trama futurista, tecnologia de ponta. Em Projeto Gemini, Smith enfrenta sua versão jovem, um soldado indestrutível criado a partir dele – seu clone. Deu errado porque, apesar de toda a técnica, a versão jovem não era tão boa assim, comprometendo toda a arquitetura dramática. Em Bad Boys para Sempre, as coisas funcionam muito melhor porque o jovem (e brutal) vilão é espetacular. Jacob Scipio é quem faz o papel. É um ator anglo-guianense que começou a se destacar em séries na Inglaterra. Há um mistério – um laço? – que você vai descobrir no desfecho. E já que falamos em séries, Alexander Ludwig, o Björn Ironside de Vikings, integra o time de Mike, com direito a cenas divertidas. Expert em TI, é avesso a utilizar força física, até porque sabe que é um trator, se tiver de passar pelos outros.
Como há uma mãe desalmada, a Isabel de Kate del Castillo, existe, como contraponto, a policial Rita de Paola Nuñez, garantindo um confronto entre mulheres de cortar o fôlego. Ah, sim, permaneça sentado até o final dos créditos. Uma cena suplementar indica que a história continua e, ante o sucesso, é quase certo que tenhamos o 4, agora, sim, cercado de expectativa.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>