Nenhuma máscara para proteger médicos e pessoal da área de saúde foi produzida até agora pelo consórcio italiano do Sistema Moda, conforme prometido pelo governo do país. Era 24 de março quando o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, prometera que as primeiras máscaras estariam prontas em 96 horas. Seriam fornecidas pela indústria têxtil. E, pouco a pouco, o submundo do comércio ilegal das máscaras começa a aparecer na Itália.
A denúncia foi feita nesta quarta-feira, dia 1º, pelo jornal <i>La Repubblica</i>, que acrescenta o temor de que a máfia se aposse de parte de parte da cadeia de produção dos equipamentos de proteção individual necessários para o combate à covid-19. Conte havia feito o anúncio no dia 24 ao lado de Domenico Arcuri – comissário nomeado pelo governo para o comitê a emergência ligada à doença.
Depois de oito dias, nenhuma máscara do tipo N95 foi produzida. Em vez disso, só máscaras que seriam imitações das cirúrgicas. O comissário Arcuri havia ainda prometido que as primeiras 25 empresas do consórcio fariam 200 mil máscaras por dia, concretizando assim a promessa feita por Conte no dia 13 de distribuir máscaras e luvas para todos os trabalhadores italianos para garantir a segurança no trabalho – a produção diária cresceria de 500 mil para 700 mil máscaras.
O governo começou a ser desmentido pelo setor da Confederação das Indústrias Italianas (Confindustria) que informou ter 250 associados do setor de moda e que nenhum deles estava preparado para passar a produzir as máscaras profissionais ou cirúrgicas.
Gianfranco Di Natale, diretor de Confindustria, explicou ao <i>La Repubblica</i>, que as indústrias estavam apenas preparadas para fazer as máscaras comuns, que servem apenas para andar da rua ou fazer compras.
Os problemas para cumprir a promessa do primeiro-ministro seriam ainda de ordem burocrática, pois o tipo de tecido usado nas máscaras está em falta e para substituí-lo por outro, as empresas teriam de obter uma séria de aprovações e laudos que emperraram a produção. Os certificados são dados por apenas dois laboratórios na Itália, que estão testando centenas de tipos de tecido para verificar se eles são apropriados contra a covid-19.
<b>Máfias</b>
Enquanto isso, o submundo continua agindo. Para o procurador nacional antimafia Federico Cafiero de Raho, há um forte risco de que as máfias italianas se movam para importar máscaras e outros equipamentos de proteção individual, porque podem pagar em dinheiro vivo na China e conseguem liberar as mercadorias nas alfândegas do Leste europeu. "Graças à liquidez e à capacidade de corromper, nossas máfias são líderes internacionais. Esperamos que não consigam ter sucesso antes do Estado", disse.
Há temores ainda sobre a qualidade do material vindo da China. Na semana passada, autoridades holandesas encontraram defeitos em um lote de um milhão de máscaras do tipo N95, que não cobriam de maneira correta e boca nem filtravam todo o ar. Cerca de 600 mil delas já haviam sido distribuídas aos hospitais do País e foram recolhidas.
Caso semelhante aconteceu em Madri, na Espanha, onde foram verificados problemas nos testes para coronavírus. O governo recolheu 8 mil hastes usadas para colher amostras nos pacientes e as devolveu à China com outras 50 mil que não haviam sido ainda distribuídas. Os testes teriam demonstrado uma precisão apenas de 30% ante 80% prometido pela empresa chinesa, a Shenzhen Bioeasy Biotechnology.
Por fim, na região de Bolonha (Emília Romana), a Guarda de Finanças – espécie de polícia do Fisco italiano – apreendeu nesta quarta-feira 50 mil máscaras e 13 mil dispositivos de uso único para ventiladores respiratórios, este últimos seriam mandados à África do Sul. Já as máscaras de tipo cirúrgico eram destinadas a empresas privadas que pretendia revendê-las.
A venda desses equipamentos para o exterior foi proibida pelo governo italiano durante a crise de covid-19. Os equipamentos foram entregues à agência de saúde da região da Emília Romana. "É verdadeiramente ignóbil que exista quem continue, por avidez do lucro e em um momento dramático para nosso país e para o mundo, a especular com a saúde e com a vida das pessoas", afirmou o assessor regional de saúde da região, Raffaele Donini.