Com ocupação de 91,4% em UTIs, RS põe Estado todo em restrição máxima

com o sistema de saúde no limite, o governo do Rio Grande do Sul decidiu nesta quinta-feira, 25, colocar todos os municípios do Estado na bandeira preta, fase mais restritiva do plano local contra a covid-19, e cancelar cirurgias eletivas nos hospitais. A ocupação de UTIs atingiu 91,4%, com 2.708 internados (metade é de pacientes confirmados do novo coronavírus). Na noite desta quinta, havia 106 pacientes à espera de um leito de terapia intensiva em Porto Alegre, segundo dados da prefeitura.

Na bandeira preta, os municípios devem manter abertos serviços essenciais, lotéricas e o comércio podem abrir com restrições e escolas podem funcionar somente até 2º ano do ensino fundamental. Academias, salões de beleza e quadras, por exemplo, não podem abrir as portas.

Se for comparar, já estou enxergando o pico do Everest. Estamos aqui apavorados. A partir de agora, os hospitais gaúchos, entre públicos e privados, têm o compromisso de disponibilizar toda a sua estrutura para atendimento de casos de covid-19, porque estamos na fase mais crítica, que precisa de atitudes mais drásticas", disse a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann. Segundo o governo gaúcho, em todo o Estado há apenas 233 leitos disponíveis, no momento em que a curva de contágio cresce rapidamente. De segunda-feira até esta quinta-feira 190 pessoas morreram pela doença.

Próximo ao colapso total do sistema, o governador Eduardo Leite (PSDB) convocou uma reunião entre os prefeitos dos municípios gaúchos para anunciar o fim da cogestão municipal, o que significa que os governos locais não poderão adotar medidas mais brandas do que o determinado pelo sistema de bandeiras do Estado. A medida vale por nove dias, e passa a valer a partir de sábado.

Leite estudava desde a sexta-feira, 19, acabar com a cogestão que permitia aos prefeitos adotarem medidas menos restritivas. Mas, após pressão dos prefeitos e empresários locais, recuou. Nesta quinta, ele se reuniu, virtualmente, com gestores municipais. Durante quase três horas de reunião, o governador e sua equipe apresentaram uma série de dados. "Sei que é antipático, muitas vezes polêmico. Opte por um lado ou por outro, vai haver gente criticando porque vai impactar na vida das pessoas. O vídeo que apresentei ontem (quarta) foi no sentido de dar o apoio para que os prefeitos exerçam a parte antipática sem temer politicamente por isso, podendo botar na conta do governador", afirmou, referindo-se a uma gravação endereçada a prefeitos.

<b>Aumento de restrições divide prefeitos</b>

Durante a reunião, o presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Emanuel Hassen de Jesus, conhecido como Maneco (PT), cobrou do governador postura mais assertiva em relação a Brasília. "Senti falta que nessa sua manifestação cobrança mais firme ao governo federal para que tenhamos as doses das vacinas necessárias". Maneco defendeu o fim da cogestão e a adoção de medidas mais restritivas, mas reclamou das dificuldades para a chegada de imunizantes.

"Estamos à disposição para ajudar a comprar vacina, se for necessário, pelo Estado e municípios. Mas antes disso, acho que está na hora de a gente cobrar do presidente da República a responsabilidade que deve com o fornecimento de vacinas. É a primeira vez que temos que ajoelhar e implorar por vacinas", acrescentou o líder.

Mas nem todos os gestores municipais ficaram convencidos. O principal argumento era de que o comércio não deveria ser fechado pois, na avaliação de parte do grupo, o crescimento dos casos se deve apenas às festas ilegais e aglomerações. Kiko Hoff (PDT), prefeito da cidade de Portão, foi um dos que defenderam a continuidade da cogestão por achar que a restrição não tem resultados. "Se essas medidas tivessem efeitos realmente práticos na diminuição da contaminação, eu seria favorável. Essas pessoas se contaminarão mais ainda porque tirarão esses dias de férias para visitar parentes sair à rua. Restringe o horário, aumenta a contaminação."

Hoff é um dos gestores que acreditam que os casos cresceram apenas em razão das festas. "No ambiente de trabalho, seguindo todos os protocolos, há diminuição do corona se dá muito mais do que no ambiente de lazer. Está provado na curva que o carnaval é o responsável, o momento de lazer, de distração, da bebida, das festas, das raves que fez explodir."

Os prefeitos do interior não foram os únicos crítico ao fechamento do comércio. Sebastião Melo (MDB), que governa Porto Alegre, também demonstrou contrariedade. "O senhor já veio para essa reunião com decisão tomada e não concordo com ela. Acho que poderíamos, por região, sentarmos e fazer mais restrições. Eu fecharia todas as outras demais possibilidades, espaços públicos, restrições de ônibus."

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