O mercado de câmbio teve uma tarde de nervosismo, com o dólar disparando mesmo após o Banco Central anunciar intervenção de US$ 1 bilhão para esta quinta-feira. O dólar à vista fechou em alta de 1,52%, a R$ 4,5801, novo recorde histórico e a 11ª sessão consecutiva de valorização. O dólar futuro para abril encostou em R$ 4,60. A sinalização de que o BC prepara novo corte de juros ajudou a pressionar ainda mais as cotações do dólar e o real teve novamente o pior desempenho no mercado internacional, considerando uma cesta de 34 moedas. O dólar já acumula alta de 14% neste ano, a maior dos mercados emergentes.
Profissionais do mercado de câmbio argumentam que o Banco Central deveria ter anunciado o leilão de swap para hoje, e não para a quinta-feira. Esse foi um dos motivos de o anúncio da intervenção não ter surtido efeito, ressalta o gerente da mesa de juros da CM Capital Markets, Jefferson Lima. Pouco após o BC anunciar o leilão, o dólar renovou máximas e o dólar futuro entrou em leilão.
Nas tesourarias de bancos, a avaliação é de que estas intervenções pontuais do BC até ajudam, mas claramente perderam eficácia e só uma ação mais ampla poderia reverter a trajetória da moeda americana. O diretor de um banco cita como exemplo o que fez o BC do Chile no final de 2019, quando anunciou um programa de intervenção, com US$ 20 bilhões das reservas, por um período prolongado e com anúncios semanais de valores. Com isso, a autoridade monetária chilena conseguiu conter a sangria no mercado cambial local, que estava estressado por conta da onda de protestos sociais, e o peso vem tendo comportamento mais alinhado com outras moedas emergentes este ano.
Nas últimas 11 sessões, o dólar acumulou alta de 6,5%, destoando de outros ativos brasileiros no período, que pioraram por conta do coronavírus, mas depois tiveram alguma recuperação. O Ibovespa por exemplo caiu forte, mas vem tendo altas pontuais. Para um diretor de tesouraria, as contas externas brasileiras pioraram nos últimos meses, mas não justificam o dólar neste nível. Para ele, o dólar entre R$ 4,00 e R$ 4,20 seria mais condizente com os fundamentos brasileiros.
O mesmo vale para o diferencial de juros do Brasil com o resto do mundo, ressalta Aidar, da Infinity. A aposta de mais cortes pelo BC cresceu desde ontem, inclusive com casas como o Citi prevendo redução de 0,50 ponto para a Selic. O mesmo movimento vem ocorrendo em outros mercados. Portanto, o diferencial de juros do Brasil com o resto do mundo não se altera significativamente.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no quarto trimestre de 2019, mostrando que a economia ainda não ganhou fôlego, também ajudou a pressionar o câmbio nesta sessão, principalmente porque reforça a tese de corte de juros – novas casas cortaram projeções para o PIB em 2020. Na avaliação do economista sênior para América Latina da consultoria inglesa Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia, os riscos de piora da atividade cresceram substancialmente nas últimas semanas, por causa do coronavírus. Neste ambiente, o BC deve cortar a Selic em ao menos 0,25 ponto porcentual este mês.