Sozinha, uma mulher de aproximadamente 45 anos fixou moradia há mais de um ano na praça Prefeito Paschoal Thomeu, localizada entre as duas pistas da avenida Antonio de Souza, no Centro. Ela, que usa lonas como moradia, afirma se chamar Joana Jéssica Getúlio Silva e não soube precisar há quanto tempo habita nas ruas. Joana gesticulava e falava sozinha e, abordada pela reportagem do Guarulhos Hoje, disse ter 1.080 anos de idade.
Questionada sobre a possibilidade de buscar abrigo em albergue municipal, a mulher comenta ter decidido não se instalar mais no estabelecimento por ter que sair do local ao amanhecer. "Não gosto do albergue. Lá somos enxotados pela manhã. Tenho minhas coisas e não dá pra ficar levando tudo pra lá e pra casa", disse.
Os comerciantes do trecho afirmam que Joana é bastante pacífica. "Ela compra comida e café aqui e não causa problemas", diz Alessandro Natal, 37, proprietário de um restaurante. O gerente de uma loja de tintas, Ubirajara Jeorge de Oliveira, 29, diz, "ela é tranquila, não bebe, não suja a praça e é muito higiênica".
A Reportagem constatou a informação de Oliveira quando conversou com ela, que usava um vestido branco e limpo. Ao falar da família, ela argumenta, "meu pai foi para a América (sic) e me deixou com meus avós, que não me tratavam bem. Por isso estou na rua".
Questionada sobre a presença de Joana na praça, a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Assistência Social esclareceu que o albergue funciona somente no período noturno e que Joana já foi abordada algumas vezes e convidada a repousar no abrigo. A Pasta alega que a moradora de rua chegou a ir ao albergue por algumas vezes, mas não retornou mais.
Desigualdade é base para País, afirma sociólogo
Joana existem às centenas pelas ruas. Recentemente, o GH relatou a situação de outra mulher que vive em uma barraca de camping na avenida Timóteo Penteado, no Picanço.
Para o professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Marcos Tarcísio Florindo, a presença de moradores em situação de rua aumenta e é um reflexo do capitalismo e da desigualdade social. "O direito à moradia é garantido na Constituição Federal", afirma o professor.
O sociólogo explica que este problema social está diretamente relacionado a questões históricas, econômicas e políticas. "O Brasil construiu sua história em cima da desigualdade entre classes e a grande tarefa da sociedade e vencê-la".
A respeito dos abrigos e albergues, Florindo comenta que investimentos em estabelecimentos destes cunhos têm validade, mas não deixam de ser uma medida paliativa, que não trará soluções para tal desigualdade social.