A Associação de Construção Comunitário e Cidadania (ACC), entidade que seria ligada ao vereador Geraldo Celestino (PSDB), é acusada de comercializar ilegalmente os apartamentos do empreendimento Guarulhos A7, conhecido como "Cecapinho", da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Os 224 imóveis serão sorteados entre servidores públicos municipais e estaduais que se inscreverem até o próximo sábado.
Pessoas que se filiaram a ACC afirmam que foram informados de que teriam direito a um dos apartamentos e ficaram surpresos quando descobriram que os imóveis seriam sorteados. Eles pagavam mensalidade no intuito de ter direito a ingresso fácil no empreendimento. Teriam acontecido reuniões desde 2005 com os filiados, conduzidas por Celestino, para tratar dos prédios.
Uma servidora municipal de 43 anos, que não quis se identificar, afirma que há sete anos paga uma taxa de R$ 20 à ACC por um apartamento. "Pagamos até o dia 30 na sede da associação e nos dão um comprovante. Falaram que o próximo empreendimento para os filiados seria no Cecap", diz. O metalúrgco Maurício Moreira Ribeiro, 53, disse que a mulher dele pagou por dois anos a entidade, mas desistiu."Disseram que esses apartamentos teriam preferência para a associação", conta.
A instrutora de autoescola Adriana Leite Gomes da Silva, 37, afirma que deixou a ACC em 2009 e até hoje espera o ressarcimento dos valores pagos desde 2004. "Tinha mês que pagava R$ 10, em outros R$ 20 e até R$ 40. O Geraldo sentou comigo, pediu para uma mocinha pegar meus dados. Fui a várias reuniões que ele garantiu que não haveria sorteio. Quando vi que aquilo era do CDHU percebi que estava sendo enganada", conta. Ela garante que nunca foi informada pela ACC de que os imóveis eram da estatal e que seriam sorteados.
A ACC não aceita inscrições para novos associados. O presidente, conhecido como Lafrata, não foi localizado pelo HOJE. Já Celestino diz que não possui cargos na associação e não pode falar juridicamente pela entidade. Ele nega que seja líder da associação e que os filiados teriam sido informados que os apartamentos seriam deles. "A mensalidade é para a associação pagar contas. É uma entidade seríssima na luta por moradia", afirma.
ACC vai ao MP contra a companhia estadual
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) investiga se houve erro de a CDHU em não destinar os 224 apartamentos do empreendimento Guarulhos A7 para a Associação de Construção Comunitário e Cidadania (ACC).
A Promotoria recebeu a denúncia da própria ACC que reclama que houve a promessa da estatal de destinar os apartamentos a uma lista fechada elaborada pela entidade. Segundo o promotor de justiça Zenon Lotufo, integrantes da ACC protocolaram a denúncia na semana passada. "Pelo que vi não há nada que a CDHU fez que comprove a destinação aos associados, mas o MP vai apurar", diz.
Lotufo conta que há dois anos foi instaurado inquérito contra a associação motivado por ex-filiados que se diziam enganados pela promessa de que teriam direito a apartamentos no Cecapinho em troca do pagamento de mensalidade. Na época, a associação se comprometeu a avisar os filiados de que os imóveis do CDHU não tinham relação com a entidade. Ele diz que os filiados que se sentirem lesados podem procurar a Promotoria.
Segundo Celestino a associação procurou o Ministério Público porque a CDHU prometeu que as vagas seriam para os seus filiados. "Em 2006 vieram membros da CDHU e confirmaram que seriam para mais de 200 associados. Em 2008 a legislação mudou para não atender mais grupos fechados, só sorteios abertos. Queremos outro empreendimento dirigido para as pessoas que ficarem de fora", diz.