No último dia 12, o agente de saúde Michel Silveira da Silva, preso em Osasco desde outubro por uma denúncia de roubo sem nenhuma prova do envolvimento dele no crime, ganhou liberdade. Mas isso só ocorreu depois que amigos e colegas de trabalho juntassem uma série de evidências de que no momento do crime ele estava em outro lugar.
Em Guarulhos, quatro jovens que vivem uma situação parecida seguem presos no CDP da cidade há quase três meses, já que – diferente de Michel – não conseguiram juntar provas de que estariam em outro local no momento do crime do qual são acusados por apenas uma das vítimas de uma tentativa de assalto, que inclusive não foi consumada.
Michel foi acusado por ter praticado um crime em 19 de outubro. O motorista de um carro que fazia entregas de eletrônicos disse à polícia que foi abordado em uma rua do bairro de Perus. Três dias depois do assalto, a vítima viu Michel passando de carro pelo bairro e o reconheceu como um dos autores do crime. O rapaz anotou a placa e o modelo do veículo e avisou a polícia. Em 28 de outubro, Michel foi abordado e preso.
No entanto, as imagens das câmeras de segurança da UBS onde ele trabalha, mostram que, no dia do roubo, Michel foi trabalhar. Ele assinou a ficha de frequência, depois seguiu para um curso fora da unidade e também assinou a lista de presença. O agente estava acompanhado por algumas colegas de trabalho que dizem que o rapaz não deixou o local. "Nós somos prova, nós estávamos presente neste evento com ele do lado, não tinha como ele estar presente nesse assalto", disse Rogéria Vasconcelos.
Depois de quase três meses preso e com pedidos de habeas corpus e liberdade provisória negados, ele finalmente teve a liberdade concedida pelo desembargador Luís Carlos Ribeiro dos Santos, do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Guarulhenses permanecem presos mesmo sem terem sido identificados
O caso de Guarulhos é bastante parecido. O ajudante de caminhão, Samuel Alves dos Santos, de 30 anos, morador de São Paulo, foi vítima de tentativa de assalto na manhã do dia 27 de outubro, na avenida Humberto de Alencar Castelo Branco, em Guarulhos. Horas depois, ainda nervoso, disse na delegacia ter reconhecido dois dos quatro jovens presos uma hora e meia mais tarde pela Polícia Militar.
M.P.O., 21 anos, R.V.B., 23, L.S.C, 24, e L.A.P., 26, ocupavam um Corsa quando foram abordados por PMs, na praça Ana Antonelli, em frente a um posto da Guarda Civil Municipal, na mesma região do local onde ocorreu a tentativa de roubo. Segundo os jovens, que têm residência fixa, empregos e nunca tiveram passagens pela polícia, eles voltavam de uma balada e teriam sido confundidos. Mesmo assim, por causa do depoimento da vítima, permanecem presos.
Por volta das 7h daquele dia, Samuel estava com o motorista Filipe Soares da Costa Gonçalves, em uma camionete que transportava papel higiênico, quando um veículo se aproximou. Um dos ocupantes teria avisado que o baú estava aberto. "Disse ao meu companheiro que não parasse pois aquilo seria um assalto", contou. Cerca de um quilômetro depois, a camionete teria sido interceptada por um Corsa. Um dos jovens, segundo o ajudante, desceu armado. "Aos gritos, mandaram a gente ficar quietos pois era um assalto", contou.
Ainda segundo Samuel, o motorista ameaçou correr. Aparentando nervosismo, o jovem que estava segurando a arma se assustou e retornou para o carro, que saiu em alta velocidade. A PM foi acionada e, uma hora e meia depois, os quatro jovens que passavam pela região acabaram presos.
"Na hora do assalto, dois desceram do carro e dois ficaram no banco traseiro. Não vi o rosto deles, mas reconheci na delegacia dois deles. Não tenho nenhuma dúvida quanto a isso", afirmou Samuel. Ainda segundo o ajudante, na delegacia ouviu um dos acusados contar que todos passaram a noite numa balada. "Eles aparentavam estar drogados. Um entrou em desespero e disse que não se lembrava do que havia acontecido. Uma pena. Os caras tão jovens e drogados", observou. Segundo o boletim de ocorrência, lavrado no 2º DP, consta que o motorista do caminhão também teria reconhecido dois dos acusados. Porém, ao HOJE, o ajudante afirmou que só ele fez o reconhecimento. O motorista foi procurado mas não quis falar com a reportagem. Um dos jovens alega que foi reconhecido somente depois que colocaram um boné sobre sua cabeça. "Não fizemos isso", disse chorando.
Os acusados, inclusive os dois que não foram reconhecidos, acabaram autuados em flagrante e estão no CDP. "Fiz o reconhecimento de dois deles. Os outros dois não vi o rosto. Nem sabia que estavam presos ainda", disse Samuel.
Enquanto aguardam o julgamento, os familiares sofrem. "Paramos de viver desde que soubemos que eles estavam presos. A vida virou um caos. Só durmo à base de calmantes", disse a mãe de um deles, que prefere não se identificar.