A curva de juros continuou a perder inclinação nesta sexta-feira, 27, em que as taxas curtas terminaram a sessão regular de lado e as demais, em baixa moderada, em reação positiva às medidas anunciadas hoje pelo governo brasileiro para amortecer o choque econômico trazido pelo coronavírus. Na semana em que bancos centrais e demais autoridades reforçaram ações para combater a pandemia, houve grande alívio de prêmios na curva, especialmente na ponta longa, com o vencimento para janeiro de 2027 por exemplo fechando em torno de 150 pontos-base em relação à sexta-feira da semana passada.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 3,500%, de 3,489% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2022 caiu de 4,432% para 4,37%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 7,64%, de 7,762%. Na sessão estendida, porém, ensaiavam uma realização com viés de alta ante os níveis da etapa regular.
As taxas percorreram a manhã ligeiramente pressionadas, ensaiando alguma correção após a queda recente, mas logo no início da tarde zeraram o avanço para seguirem em baixa até o encerramento dos negócios, mesmo com o dólar em alta e a Bolsa, em baixa. O movimento se deu na esteira do anúncio simultâneo das medidas para proteger o emprego e facilitar o crédito anunciadas pelo Banco Central e Caixa. "O mercado viu esse QE brasileiro como construtivo para a curva", disse um gerente de tesouraria.
O governo anunciou linhas de crédito para financiar o pagamento de salários a empresas com faturamento entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões. Serão destinados R$ 40 bilhões para cobrir dois meses de pagamentos. O Tesouro Nacional bancará 85% e o restante ficará com os bancos privados. A Caixa reduziu juros de todas as linhas de crédito.
Para o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, as medidas são "fundamentais e vão na direção correta", pois preservar os empregos e a renda é o desafio agora. "No entanto, o volume ainda é modesto se observada a medida isoladamente (o que é incorreto, afinal estão sendo anunciadas muitas medidas)", disse, em comentário a clientes, lembrando que o Consumo das Famílias medido pelo IBGE nas contas do PIB foi em média o ano passado de R$ 392 bilhões (somado o consumo das famílias no ano e depois dividido por 12 meses).