A Rede Nossa São Paulo, uma entidade séria, lançou o projeto Cidades Sustentáveis, um mecanismo que oferece aos gestores públicos uma agenda completa de sustentabilidade urbana, um conjunto de indicadores e um banco de práticas com casos exemplares nacionais e internacionais como referências a serem perseguidas pelos municípios. Em contrapartida, as prefeituras deveriam apresentar um plano de metas a serem cumpridas dentro deste mandato, entre 2013 e 2016.
O prefeito de Guarulhos, Sebastião Almeida (PT), tinha o compromisso de entregar até 31 de março um plano de metas para a Rede Nossa São Paulo. Não o fez. O movimento ampliou o prazo para 15 de maio. Na última hora, às pressas, Guarulhos entregou um plano de metas, que – imediatamente – tornou-se motivo de chacota no meio político local e em toda a mídia. Entre as metas, objetivos impossíveis de serem atingidos, como zerar os homicídios, zerar os crimes sexuais e zerar as mortes em acidentes de trânsito no município até 2016, entre outros absurdos.
Na tribuna da Câmara, o vereador Guti (PV), diante do plano de metas de Almeida, foi enfático: "São metas que nem o pai lá de cima conseguiria cumprir. Só se ele se julga acima de Deus". O colega Gilvan Passos (PSDB) foi além: "Se Almeida conseguir cumprir isso, eu deixo meu partido e mudo para o PT". Logo esclareceu: "Tenho certeza que não deixarei o PSDB, porque isso é conversa para boi dormir".
Maurício Broinizi Pereira, coordenador executivo do Nossa São Paulo, tenta minimizar os erros cometidos pela Prefeitura de Guarulhos. "Isso é novidade para todo mundo. Nunca no Brasil conseguimos 230 cidades se empenhando em traçar indicadores para chegar a níveis de excelência. É natural que algumas cometam certos erros", afirmou. No entanto, ele revela que metas como "zerar o número de homicídios" figuram como valores de referências, baseados em experiências de melhores práticas em diversas cidades do mundo. "Acredito que eles se confundiram e colocaram como meta de Guarulhos algo que é o ideal", completou.
O coordenador do Nossa São Paulo afirmou, no entanto, não acreditar que o plano apresentado por Almeida foi realizado às pressas ou por pessoas despreparadas. "Eles enviaram várias fotos de reuniões onde participaram secretários envolvidos com os temas e especialistas nos assuntos. Mas como estava muito em cima da hora, creio que cometeram alguns erros". Para corrigi-los, o movimento já devolveu o plano de metas para que seja refeito, dentro de parâmetros aceitáveis. "Não tememos que esse tipo de apresentação realizada pela Prefeitura de Guarulhos atrapalhe nossos objetivos ou nos exponham ao ridículo. São erros que acontecem", finalizou Maurício.
PT não fez em 12 anos e meio o que
promete para os próximos três
Mesmo depois de administrar Guarulhos por 12 anos e meio, o PT não conseguiu melhorar índices que agora promete, de uma hora para outra, transformar numa cidade ideal. O plano promete chegar em 2016 com 80% do esgoto tratado. Porém, a verdade é bem diferente desta. Em 12 anos, os governos do PT construíram três Estações de Tratamento de Esgoto (ETA), mas que ainda não funcionam em sua totalidade.
Em novembro passado, o superintendente do Saae, Afrânio de Paula Sobrinho, revelou em audiência pública realizada na Câmara Municipal, que a cidade ainda não tratava nem 15% de seu esgoto, apesar de Almeida alardear durante toda a campanha eleitoral que a cidade já gozava de 35% de tratamento. O número só seria alcançado, se tudo desse certo, ao final de 2013. No entanto, conforme divulgou o Instituto Trata Brasil neste final de semana, Guarulhos tem três obras de saneamento paralisadas, apesar de boas partes dos recursos provenientes do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do Governo Federal, já terem chegado à cidade.
Outra meta de Almeida, bastante louvável, deixaria Pinóquio vermelho de vergonha. Ele afirma que reduzirá a 0% a população que reside em domicílios considerados favelas. Guarulhos conta hoje, segundo o IBGE, com cerca de 300 núcleos habitacionais que podem ser classificados como favelas, onde vivem mais de 150 mil pessoas. Em contrapartida, os programas habitacionais tocados pela Prefeitura andam a passos de tartaruga. Dois deles, na São Rafael e Bela Vista, que receberam recursos do governo federal e já deveriam ter sido entregues há pelo menos dois anos, ainda têm obras inacabadas.
Há ainda promessas como levar água potável a 99,6% da população quando mais da metade da cidade ainda sofre com o desabastecimento ou com o rodízio de água. Reduzir as perdas a 31,5% é outro sonho distante já que o próprio Saae admite que Guarulhos deixa vazar pelo caminho perto de 50% de sua água, em furtos e vazamentos, e que as únicas medidas realizadas são campanhas de conscientização junto à comunidade.
PREFEITO REDENTOR
– zerar agressões a adolescentes, jovens, idosos e mulheres
– zerar os crimes sexuais
– zerar os homicídios
– zerar as mortes em acidentes de trânsito
– igualdade de negros e brancos no Executivo e Legislativo
ACREDITE SE QUISER
– 31,5% de perda de água no sistema de abastecimento
– 99,6% da população com água potável
– 86% dos domicílios ligados à rede de esgoto
– 80% do esgoto tratado
– 100% da demanda atendida em pré-escolas
SONHO MEU
– Índice de oito roubos a cada dez mil habitantes
– Erradicar o analfabetismo
– Erradicar o trabalho infantil
– Um centro cultural a cada dez mil habitantes
– 100% das calçadas adequadas às condições legais