Cidades

Por que o guarulhense se levantou contra Almeida

Em seus mais de 450 anos de história, Guarulhos nunca assistiu a uma manifestação que reunisse mais de 10 mil pessoas, juntas, nas ruas.

Na última sexta-feira, dia 21, perto de 40 mil guarulhenses se espalharam por diferentes pontos da cidade para protestar. Contra o que? Contra tudo e contra todos, assim como ocorre nos mais diversos municípios do país. Mas o ato em Guarulhos levou para as ruas, conforme pode ser observado nos gritos de guerra e em centenas de faixas e cartazes, a grande indignação do povo em relação ao prefeito Sebastião Almeida (PT). 

Almeida foi a pessoa mais lembrada tanto no ato que partiu do Centro e parou as rodovias Presidente Dutra e Helio Smidt, fechando o único acesso de São Paulo ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, por mais de quatro horas, como as passeatas que seguiram pela avenida Paulo Faccini até o Bom Clima e outra que partiu do Conjunto Marcos Freire, na região do Pimentas, até a Dutra, próximo ao Trevo de Bonsucesso.


Além das questões nacionais, os manifestantes protestaram contra a tarifa, baixada a R$ 3,00 somente após a pressão popular, contra o IPTU, que aumento até 2.000% em janeiro, contra o péssimo atendimento médico nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), contra as mortes – nunca explicadas – de 14 crianças no Hospital Municipal da Criança (HMC) em 2011, contra os desvios de verbas públicas pela ONG Água e Vida, criada e administrada pela família de Almeida, pela falta de investimentos em educação, pelo alto gasto da Prefeitura com funcionários comissionados, entre outras reivindicações.

Ao longo dos primeiros quatro anos de governo, Almeida conseguiu criar dentro do Executivo um grande esquema que cooptou Câmara Municipal, Ministério Público, fornecedores e boa parte da imprensa, com o claro objetivo de não sofrer qualquer tipo de oposição e garantir a reeleição. No entanto, como as ruas mostraram, a população percebeu e está dizendo um não a este estado totalitário.

Alguns pecados de Almeida


CASO ÁGUA E VIDA – Em 2010, o prefeito Sebastião Almeida foi acusado por desviar mais de R$ 40 milhões de verbas do programa federal Saúde da Família, que teriam sido utilizados em campanhas eleitorais do partido. A instituição foi criada pelo próprio Almeida no início dos anos 2000 e era administrada pela primeira dama Lourdes Almeida e pela filha Flávia Almeida. O caso ainda tramita na Controladoria Geral da União (CGU).

IPTU – Em janeiro, logo após assumir seu segundo mandato, Almeida enfrentou vários atos de protesto já que os contribuintes receberam os carnês de IPTU, que variaram entre 500% até 2000%, já que o prefeito reajustou de uma só vez a Planta Genérica de Valores, que serve para o cálculo de impostos, que estava congelada desde a primeira administração do ex-prefeito Elói Pietá (PT), devido a trapalhadas cometidas pelo próprio chefe do Executivo e por sua Secretaria de Finanças. Apesar da comoção popular, até hoje, tirando poucas exceções, os impostos não foram revistos e muitos guarulhenses são obrigados a pagar mais de IPTU do que pagariam de aluguel para viver em suas próprias casas.

SISTEMA DE TRANSPORTES – Em 2011, Almeida lançou um novo sistema de transportes, sem criar condições para seu funcionamento, gerando o caos e aumento do tempo para o deslocamento entre os bairros e a região central, já que não havia terminais nem mesmo corredores de ônibus. Tanto que a implantação do Bilhete Único, que parecia ser algo positivo, caiu em desgraça e até hoje ainda não foi assimilada pela população. Durante dois anos, as lotações que foram excluídas no novo sistema rodaram por meio de liminares na Justiça, que caíram no último mês de fevereiro. Quando as lotações deixaram de circular, o sistema piorou ainda mais já que as empresas não aumentaram o número de ônibus nas ruas. Enquete realizada pelo portal de notícias G1 mostra que o transporte público é apontado por 31% como o pior problema da cidade.

MORTES NO HMC – Em 2011, 14 crianças morreram na UTI Neonatal do Hospital Municipal da Criança em circunstâncias que nunca foram esclarecidas. O hospital chegou a ser fechado pela Vigilância Sanitária Estadual. O secretário municipal de Saúde e vice-prefeito, Carlos Derman, nunca permitiu que o caso fosse esclarecido e fez de tudo para esconder as verdadeiras causas.

COMISSIONADOS – Conforme a Folha do Ponto publicou em maio, a Prefeitura de Guarulhos gasta todo ano perto de R$ 200 milhões para manter cerca de 2.400 funcionários comissionados, que não precisam passar por concurso, em seus quadros. Lotados na Secretaria de Governo, a maioria não precisa assinar ponto nem mesmo justificar sua presença em algum local de trabalho, facilitando a permanência de fantasmas pagos com dinheiro público. Conforme a relação publicada no Diário Oficial por força de uma ação do Ministério Público, é possível perceber que os cargos são destinados a pessoas ligadas aos partidos da base, que trabalharam durante a campanha de reeleição de Almeida, além de ex-vereadores que não conseguiram se reeleger e seus familiares.

OBRAS PARADAS – Apesar de anunciar uma série de obras pela cidade, várias delas – que já tiveram verbas liberadas pelo governo federal – encontram-se paradas. Conforme a Folha do Ponto publicou neste mês, mais de R$ 11 milhões liberados pelos Ministérios dos Esportes e da Cultura deixaram de ser usados em reformas de praças esportivas e centros culturais sem qualquer explicação. Há ainda construções de CEUs (Centros de Educação Unificados), grande bandeira eleitoral de Almeida, paradas ou tocadas a passos de tartaruga.

MAIS OBRAS PARADAS – Pelo menos 25 obras anunciadas festivamente, que contariam com verbas milionárias do PAC 2, encontram-se paradas em diferentes pontos da cidade. São obras como urbanização de favelas, contrução de piscinões, ligação da Papa João Paulo I com a Dutra, na continuação da avenida Jacu Pêssego, além de Unidades de Pronto Atendimento. Várias delas, inclusive, figuram como promessas de campanha na primeira eleição de Almeida e repetidas durante a reeleição.

TERMINAL RODOVIÁRIO – Inaugurado em 2011, o Terminal Rodoviário de Guarulhos nunca teve uma demanda que justificasse os quase R$ 20 milhões de dinheiro público utilizados ali. Para piorar a situação, em março de 2012, o teto do empreendimento caiu depois de uma ventania e demorou mais de um ano para ser reconstruído e reaberto.

TRATAMENTO DE ESGOTO – Apesar de alardear ao longo da campanha de reeleição, que construiu três Estações de Tratamento de Esgoto na cidade e que Guarulhos teria já 35% de esgoto tratado, o próprio superintendente do Saae afirmou em audiência pública na Câmara Municipal que esse número só poderia ser alcançado no final deste ano. Almeida também garantiu que terminaria seu mandato com 80% de tratamento de esgoto. No entanto, no final do ano passado, precisou criar uma PPP, uma espécie de privatização do Saae, para buscar na iniciativa privada recursos para conseguir cumprir a promessa.

 

 

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