Devido ao horário de verão, às 19h20 da última segunda-feira, o céu em Guarulhos ainda estava claro. Não fosse uma nuvem negra de uma chuva rápida, que caiu sobre a cidade naquele momento, nem as lanternas dos carros tinham sido acendidas. Mas os 13 operários que trabalhavam no prédio número xxx da avenida Humberto de Alencar Castelo Branco, já tinham encerrado o expediente, às 18h. Alguns deles tinham deixado o prédio minutos antes. Mas dois deles ficaram porque dormiam no local e acumulavam a função de vigilantes.
Um deles saiu para ir até uma padaria próxima e deixou para trás o colega Edenilson de Jesus dos Santos, 24, que estaria tomando banho quando o prédio veio abaixo. Até esta quinta-feira, o Corpo de Bombeiros ainda não o havia encontrado. Apenas documentos foram achados próximos a sua cama, no espaço do alojamento.
Caso o acidente ocorresse duas horas mais cedo, todos os funcionários estariam no local e as chances de escaparem com vida seriam remotas, o que daria a essa queda ares de tragédia bem maiores. Passado o susto, ficou para trás mais um registro de que algo de errado ocorre em Guarulhos. Neste caso, a Prefeitura apressou-se em divulgar que tudo estava dentro da lei, que havia alvará de construção concedido, inclusive em relação a uma modificação solicitada pela construtora. Calou-se entretanto sobre a fiscalização às obras propriamente ditas.
No dia seguinte à queda, veio à tona as velhas histórias de vizinhos e de operários sobreviventes. Em diferentes entrevistas, todos diziam que já esperavam pelo pior. Mas ninguém fez nada. Um ou outro alegaram que teriam avisado aos responsáveis sobre os problemas e que a ordem seria empurrar o problema com a barriga. A construtora Salema, responsável, tornou-se alvo fácil para a mídia, ainda mais quando se descobriu que a sede, na zona norte de São Paulo, ficava em um endereço residencial fechado, sobre uma padaria.
Inquéritos abertos pelo Ministério Público e Polícia Civil tentarão esclarecer os motivos do desastre. Quem sabe, daqui a algum tempo, um ou outro responsável possa ser punido, enquanto todos ficam aguardando quando será a nova tragédia em Guarulhos.
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