Cidades

Reintegração social pelo artesanato faz guarulhenses ´voltarem à vida´

Vagner da Silva, 31 anos, morador do Primavera em Guarulhos, não saía de casa. Por sofrer de depressão, dependia da mãe para quase tudo. Sete anos atrás começou a participar do Projeto Tear, após ser encaminhado – via Hospital das Clínicas de São Paulo – pelo Centro de Atenção Psicossocial (Caps). 
 
O Projeto Tear é um serviço público de Saúde Mental constituído por oficinas de trabalho artesanal para pessoas em situação de sofrimento psíquico. Durante seis anos, Vagner integrou a oficina de vitral e há quase um está na de mosaico. Aprender artesanato mudou a vida do jovem que hoje vai sozinho ao Tear, localizado na região central, assim como participa de fóruns e reuniões relacionados a sua saúde e evolução. Há 11 anos, o Projeto Tear tem como principal objetivo acolher pessoas que, como Vagner, apresentam problemas psicossociais.
 
“Antes eu ficava em casa em depressão, agora eu venho pra cá e participo das oficinas. É muito legal”, diz Vagner, que está sendo preparado para ir em novembro como delegado de Guarulhos ao Encontro Nacional de Economia Solidária, em Brasília, quando serão discutidos assuntos como a independência financeira de quem passa por tratamentos como os oferecidos pelo Projeto Tear.
 
Projeto recebe pessoas que são encaminhadas por UBS e Centro de Atenção Psicossocial
 
As pessoas atendidas no Projeto Tear são encaminhados pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), com o objetivo de retomarem o o convívio social por meio da arte. A coordenadora de equipe, Denise Castanho Antunes, explica que o projeto é um equipamento da Rede de Atenção Psicossocial (RATS), que promove a inclusão a partir do trabalho cultural e de convivência dentro das oficinas oferecidas.
 
“Apesar de ser um serviço de saúde, em que a doença é transformada em outras formas de estar no mundo, aqui não chamamos ninguém de paciente”, explica a coordenadora. Além de encaminhamentos, algumas pessoas chegam ao Tear por indicação de participantes, familiares ou que já conheceram o projeto. 
 
Como se dá a inclusão profissional 
 
Ao oferecer oficinas de marcenaria, vitral, tear e costura, mosaico, serigrafia, papel artesanal, encadernação artesanal e atividades culturais, o projeto Tear tem como um dos principais objetivos incluir profissionalmente pessoas em situação de sofrimento psíquico ou atingidas por outras vulnerabilidades sócio afetivas. 
Segundo Denise, há pessoas que tiveram algum problema com o ambiente de trabalho, que adoeceram ou que nunca tiveram a oportunidade de trabalhar.  “Ainda mais que hoje no Brasil não há uma lei de cotas que privilegie essas pessoas”. 
As oficinas oferecidas trabalham nos moldes da economia solidária, já que as pessoas envolvidas não podem se estabelecer como uma cooperativa, já que recebem – pelas condições médicas – algum tipo de beneficio social. O participante foca nas oficinas onde tem um espaço para se reorganizar, criar um cotidiano, horários e processos, além de ganhar responsabilidade e autonomia.
 
“A pessoa retoma os laços sociais imediatamente” 
 
Muitos participantes que já passaram pelo Tear conseguiram voltar a ter uma vida social normal. “Na oficina de papel, um senhor montou uma mercearia e ele toca o serviço de forma autônoma”, conta Denise. “Temos outros que obtiveram registro em carteira depois de passar por aqui”, completa.  
Os ganhos são perceptíveis, segundo a coordenadora. “Ao entrar no projeto, a pessoa aumenta os laços sociais imediatamente. Imagina alguém que estava segregado do convívio social que passa a dividir o espaço com mais de 100 pessoas todos os dias. Só isso já quebra rapidamente a ruptura social”, afirma. 
 
 
Cada oficina é formada por 16 participantes
 
Cada oficina formada por 16 participantes é orientada por um supervisor e um oficineiro. Além de ajudá­los a ingressarem no ambiente social, toda a produção é comercializada. A partir daí, acontecem reuniões de equipe que tratam da divisão do lucro para que tudo seja revertido em material para novas peças, manutenção das máquinas e bolsas auxílio, que são entregues conforme a participação na fabricação. 
 
O Projeto Tear conta com uma loja aberta ao público de segunda a sexta­feira das 9h às 17h. Os produtos podem ser encontrados em outros pontos de vendas, fixos ou itinerantes, como feiras e bazares.
Rua Silvestre Vasconcelos Calmon, 92 –  Vila Moreira – Guarulhos   www.projetotear.org.br
 

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