O presidente Jair Bolsonaro disparou nesta terça-feira, 25, de seu celular pessoal um vídeo em tom dramático em que mostra a facada que sofreu em 2018 em Juiz de Fora (MG) para dizer que "quase morreu" para defender o País e, agora, precisa que as pessoas saiam às ruas em 15 de março para defendê-lo. O ato do dia 15 está sendo convocado por movimentos de direita em defesa do governo e contra o Congresso.
A reação ao vídeo foi imediata. Bolsonaro adicionou um texto ao vídeo de 1 minuto e 40 segundos. Nele se lia: "15 de março. Gen Heleno/Cap Bolsonaro./ O Brasil é nosso, não dos políticos de sempre". O vídeo foi revelado pelo site BR Político, do jornal O Estado de S. Paulo.
Bolsonaro já enviou pelo menos dois vídeos com imagens e sobreposição de fotos suas, convocando a população a sair às ruas no dia 15. Os vídeos têm trechos idênticos, como a frase que classifica Bolsonaro como um presidente "cristão, patriota, capaz, justo e incorruptível".
O ex-deputado Alberto Fraga, amigo do presidente, confirmou ao Estado que, antes do carnaval, recebeu um desses vídeos do próprio Bolsonaro, pelo WhatsApp. A mesma peça foi compartilhada pelo secretário da Pesca, Jorge Seif Jr., com seus contatos no aplicativo.
No vídeo disparado nesta terça, ao som do Hino Nacional, as legendas afirmam que Bolsonaro "desafiou os poderosos por nós" e explora o antipetismo ao relacionar a oposição ao presidente à "esquerda corrupta e sanguinária". A peça defende Bolsonaro de forma genérica, afirmando que as críticas ao governo são "calúnias". Depois, diz que o presidente precisa do apoio "da família brasileira" contra "os inimigos do Brasil".
Na semana passada, o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), acusou o Congresso de "chantagear" o governo e deflagrou uma crise. Heleno disse que o governo não pode ficar "acuado" pelo Congresso e orientou o presidente a "convocar o povo às ruas". Os ataques de Heleno foram motivados pela discórdia em relação à repartição dos recursos do Orçamento impositivo. Em reunião com ministros, Bolsonaro também disse que não pode ficar "refém" do Congresso, como revelou o Estado.
Captadas por transmissão oficial, as declarações do general e a convocação do ato causaram repúdio no Congresso. Na ocasião, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que Heleno virou um "radical ideológico". O Estado procurou o Planalto na terça, mas não obteve resposta. Maia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), também não responderam.
Para o senador Major Olímpio (PSL-SP), que chegou a questionar se era o presidente o autor da mensagem, o episódio "é muito ruim para o País". "Vai dificultar qualquer ação do Executivo no Congresso."
Não é a primeira vez que o presidente compartilha conteúdo polêmico pelo WhatsApp. Em agosto de 2019, ele enviou texto que dizia que o Brasil é "ingovernável fora dos conchavos".
<b>Generais</b>
No segunda-feira, panfleto do ato assinado por "movimentos patriotas e conservadores" usou fotos dos generais Heleno, do vice-presidente, Hamilton Mourão, do deputado Roberto Peternelli e do secretário de Segurança Pública de Minas, Mário Lúcio Araújo. O texto dizia: "os generais aguardam as ordens do povo" e "fora Maia e Alcolumbre". Heleno e Mourão não se manifestaram. Já o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, afirmou que "o uso de imagens de generais é grotesco". As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>