Um grupo de crianças brincando em frente a uma favela de Guarulhos, com roupas rasgadas e sujas, pedindo ajuda a quem passasse pelo local. Essa foi a cena vista por Beatriz Martins de Souza, a Bia, hoje com 14 anos, quando tinha apenas 6. Sem entender do que se tratava, perguntou ao pai Ricardo Martins, sobre o que significava aquela cena e o porquê dele não ter dado nada aos pequenos.
Ricardo tentou explicar que aquilo era resultado da desigualdade social, mas Bia – com a inocência de uma criança – não achou justo tantas diferenças. Aa partir daquele dia, todas as vezes em que saía com a família e ganhava balas, a menina guardava escondido o que recebia em seu quarto. Quando os pais perceberam que ela não consumia mais as balas, Bia então mostrou um pote cheio. Disse que queria entregar para as crianças carentes no Natal que já se aproximava.
Comovido, Ricardo convocou amigos e parentes para promover uma grande ação social. Naquele fim de ano, eles ajudaram 600 pessoas carentes em favelas da cidade. Assim, surgia o Olhar de Bia, uma organização não governamental que reúne seus familiares e inúmeros voluntários, que – por meio de ações diversas – ajudam crianças e famílias em comunidades carentes de toda a Grande São Paulo.
“Tenho a vida de uma menina normal”
Atualmente Bia tem 14 anos, está no 1º ano do ensino médio no Colégio Eniac e divide seu tempo entre escola, amigos, lazer e um quadro na TV Gazeta, no programa Revista da Cidade, onde apresenta projetos sociais do Olhar de Bia. “Eu sou uma menina normal que estuda, vai mal em algumas matérias, tem um tempo muito corrido. Mas o Olhar de Bia é meu DNA. Pode me cansar? Pode, mas eu faço porque eu gosto, faz parte de mim”.
Bia pretender fazer faculdade de jornalismo. “Quero ter um programa de cunho social, divulgando não o Olhar de Bia, mas o bem”, explica. Sem revelar detalhes, ela conta que este projeto já está em processo de produção e que espera colocalo em prática em breve.
Olhar de Bia já ajudou mais de 100 mil
A instituição já ajudou cerca de 100 mil pessoas, com roupas, brinquedos, livros e eletrodomésticos arrecadados e distribuídos ao longo dos últimos anos. O objetivo de Bia é cada vez mais levar um pouco de carinho, amor e tempo para as pessoas carentes.
Pode até parecer contraditório, mas a adolescente sonha com o dia em que sua instituição deixar de existir. “Minha esperança é que o Olhar de Bia acabe. Porque significará que não tem mais pobreza nem violência no mundo. Acho que o maior sonho de toda ONG deveria ser esse, deixar de existir”, repete.
Enquanto o sonho de Bia não se concretiza, ela e todos os voluntários esperam conseguir uma sede para organizar tudo o que é arrecadado. Atualmente a casa da família serve como um depósito de tudo que chega à ONG. “No Natal do ano passado não dava para entrar em casa de tantas doações que conseguimos”.
Desde que começou o projeto, não foi só a vida de Bia que mudou mas a de toda a sua família. “O Olhar de Bia, trouxe muita vivência para nós, que pudemos ter contato com realidades diferentes em curtos espaços de tempo. Em um dia nós estávamos em uma reunião com a alta sociedade e no outro dia na favela com as crianças. A gente vê como nosso mundo é louco, como as desigualdades são tão grandes”
“A ONG começou com as balinhas. Hoje nós já temos doações de roupas, livros, eletrodomésticos. Boa parte conseguimos pelo Facebook do Olhar de Bia, que tem grande divulgação e nos ajuda na doação de muitas coisas”, afirma.
A próxima campanha do Olhar de Bia será a arrecadação de brinquedos para o Dia das Crianças, que acontece em 12 de outubro. Para ajudar, acesse www.facebook.com/olhardebia