Há quem diga que determinados assuntos relacionados ao cotidiano como futebol, política e religião não possam ser discutidos e sim compreendidos. Ledo engano. A divergência democrática existe e ganha capítulos de maior emoção em períodos mais críticos, como o atual, como o processo eleitoral que definirá o novo presidente da República.
A briga de titãs em busca da Presidência da República entre o PT, representado pela atual presidente Dilma Rousseff que busca a reeleição, e o PSDB, na disputa com o senador Aécio Neves, chegou às ruas de todo o País. Em Guarulhos, a população, entre um cafezinho e outro, nas reuniões familiares ou na atuação direta no cenário político passa a ter este assunto como prioridade.
Em muitos casos, a preferência por um candidato coloca em lados opostos gente que convive várias horas por dia juntos, como companheiros de trabalho, famílias e inclusive políticos que rezam da mesma cartilha. Na cidade, vereadores que são da base de apoio do Governo, administrado pelo PT, na Câmara Municipal, por exemplo, se colocam em lados diferentes quando o assunto é eleição majoritária.
Atrás do mesmo balcão mas em lados diferentes
“O meu voto é do PT por causa dela (Dilma Rousseff), até porque o governo dela me satisfaz. Atualmente acredito que não deva existir mudanças neste momento. Ela tem condições de ganhar esta eleição, mas precisa de um apoio maior para reverter”, declarou a atendente Neusilene Matias, 37 anos, moradora do Jardim Fortaleza, que divide o balcão de uma padaria com o eleitor de Aécio Neves, Flávio Ribeiro, 30, morador do Picanço.
Tímido e acanhado, o companheiro de trabalho de Neusilene aponta a insatisfação com a condução administrativa de Dilma como fator primordial para declarar seu apoio ao tucano Aécio Neves. “No meu entender é tudo a mesma coisa e até por isso não sei por quais motivos vou votar. A minha preferência é o Aécio porque a Dilma teve o tempo dela e não fez muita coisa, então sou a favor da mudança, principalmente, para que ele possa ter uma oportunidade e buscar alternativas para mudar o cenário atual”, ressaltou Ribeiro.
Família, família, eleições à parte
Quando este tema é o ponto central das discussões no ambiente familiar nem sempre tudo fica em casa. A divergência e o conflito entre qual candidato apoiar já faz parte do cotidiano da comerciária Aparecida Cezário, 37, e de seu filho Marcus Cezário, 16, que – segundo ela – discutem o assunto de forma saudável apesar das diferentes escolhas.
“Na minha família praticamente todos são petistas, mesmo sendo de origem mineira, e por isso sigo esta linha política. No meu entender precisa realmente melhorar, mas acredito que a Dilma merece mais um voto de confiança pra que possa resolver os problemas, até porque acredito ser o PT o único com condições de solucionar pela propostas que possui”, declarou Aparecida, que reside no Parque Jurema. Em contrapartida, seu filho, Marcus Cezário, 16, admite ter como preferência as propostas de governo apresentadas pelo candidato do PSDB. Mesmo com a pouca idade, ela destacou a importância do tema e defendeu a participação do jovem durante o processo político do País.
“Esta é a minha primeira eleição e simpatizei com as propostas do PSDB, diferente da minha mãe que sempre votou no PT. Discutimos, de forma saudável, o assunto e sempre respeitando sem nenhum tipo de imposição para mudar de partido. Gostei do tema e acredito ser muito importante para que possamos de alguma forma colaborar na construção de um país melhor”, explicou Cezário.
Uma coisa é uma coisa…
A divergência na hora de apoiar um candidato a presidente chega à Câmara Municipal. Envolvido diretamente com as decisões políticas, o vereador e deputado estadual eleito, Gileno (PSL), afirma que o recado das urnas é para que haja mudanças, mas também ressalta a disputa acirrada entre os candidatos postulantes ao cargo de Presidente da República.
“A gente percebe que a população está querendo mudanças na forma de governar, até porque é nítida a insatisfação do eleitorado, principalmente por que eles (PT) perderam nas maiores cidades da Grande São Paulo que eles governam. O nosso partido (PSL) fechou com o Aécio e vamos até o fim”, declarou Gileno, que na Câmara Municipal, sempre integrou o bloco que apoia o prefeito Sebastião Almeida, justamente do PT.
Já o também vereador Lameh Smieli (PTdoB) que compõe a base política voltada para os interesses do prefeito Sebastião Almeida, vai contra o apoio da executiva nacional e estadual de seu partido, que apoia Aécio. Ele, que se candidatou a deputado estadual e perdeu, diferente de seu colega Gileno, que se elegeu, prefere destacar esta particularidade apartidária que existe entre os mais diversos acordos políticos realizados pelas siglas e se manter fiel ao PT, apoiando a reeleição de Dilma.
“Nós da base municipal estamos fechados com o prefeito Almeida. Mas independente de partido tenho uma tendência pelas forças progressistas e enxergo isso no PT. Nós do PTdoB temos um compromisso com o governo Almeida, que é o mesmo da Dilma. É preciso respeitar as características de cada região e posso citar como exemplo o PMDB, que tem o vice no atual Governo Federal, mas que nas demais bases apoia o PSDB”, encerrou.