O Equador realiza neste domingo, 7, o primeiro turno de suas eleições presidenciais, além de escolher integrantes do Legislativo. O nome favorito na disputa pelo comando do Executivo é o esquerdista Andrés Arauz, um crítico do acordo fechado no ano passado pelo país com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Pouco atrás segundo as pesquisas, o conservador Guillemo Lasso tem boas chances de chegar ao segundo turno, de acordo com as sondagens, mas qualquer resultado não deve significar reviravolta nas delicadas finanças locais.
Para vencer em primeiro turno no país, o candidato precisa obter mais de 50% dos votos, ou 40% e uma vantagem de 10 pontos porcentuais sobre o segundo colocado. Caso isso não ocorra, o segundo turno está marcado para 11 de abril.
O Equador, como era de se esperar, também sofre com a pandemia da covid-19, tendo inclusive protagonizado em parte do ano passado cenas dramáticas com o colapso do sistema de saúde em Guayaquil, "pérola do Pacífico" que é sua capital econômica. Em uma população de pouco mais de 17 milhões de habitantes, houve cerca de 15 mil mortes pela doença confirmadas.
Em 2020, o FMI projeta que o país tenha sofrido contração de 11%. Para 2021, a expectativa do Fundo é de crescimento de 4,8%. A economia equatoriana é dolarizada desde 2000, quando as autoridades tentaram com isso interromper um processo de forte desvalorização do sucre equatoriano. Mesmo antes da pandemia o país já apresentava problemas e havia fechado um acordo com o FMI em 2019. Em setembro de 2020, firmou um segundo pacto com o Fundo, com um montante de US$ 6,5 bilhões. No ano passado, o país obteve ainda uma reestruturação de mais de US$ 17 bilhões com credores privados.
Na política, o presidente Lenín Moreno tem índices muito baixos de aprovação. Aliado do ex-presidente Rafael Correa num primeiro momento, Moreno rompeu com o antecessor, que hoje vive na Bélgica – Correa tem dupla cidadania e foi condenado no ano passado a oito anos de prisão por corrupção no Equador, num processo que ele afirma ser perseguição política.
Nesse contexto de crise de saúde, econômica e política, o país realiza seu primeiro turno presidencial. Ex-ministro de Correa, o economista Andrés Arauz aparece à frente das pesquisas. Ele já disse em entrevistas que não pretende cumprir as condições combinadas no acordo com o FMI. Argumenta que as medidas impostas são "absolutamente draconianas" e defende um programa de retomada econômica.
A Eurasia destaca em relatório que Arauz baixou o tom recentemente sobre o FMI, dizendo-se agora disposto a negociar com o organismo. Para a consultoria, é improvável que ele abandone totalmente o acordo, "diante das necessidades significativas de financiamento e das alternativas limitadas". Já Lasso é visto pela Eurasia como um candidato que, na reta final da campanha, mostra-se "cada vez mais populista", na tentativa de ganhar votos, com anúncios como uma promessa de elevar o salário mínimo em seu primeiro mês no poder e de cortar impostos. "Essas posturas sugerem que o atual programa com o FMI será renegociado seja quem vença", acredita ela.
Para a Capital Economics, os dois candidatos favoritos mostram "pouco apetite" para cumprir a agenda acertada por Moreno com o FMI. Essa consultoria acredita que as finanças do Equador devem continuar em situação ruim, "e os riscos de default soberano permanecerão elevados, seja quem ganhar". A Capital Economics vê como maior a chance de um default desordenado sob Arauz. Segundo ela, a relação entre dívida e PIB do país deve seguir elevada, com os custos de empréstimo para o país "proibitivamente altos, acima de 1 mil pontos-base ou mais", nos próximos anos. O momento de uma eventual crise futura é difícil de prever, diz a Capital Economics, apontando que isso dependerá as políticas do próximo presidente, "mas achamos que outra reestruturação da dívida em algum momento dos próximos cinco anos é uma possibilidade clara".