Um cartaz colado em uma parede do Ambulatório da Criança, no Centro de Guarulhos, nesta quinta-feira, informava que a “entrega de leite de soja estava suspensa por tempo indeterminado”. Assim que foi informada pelo GuarulhosWeb, a Secretaria Municipal de Saúde ordenou que os avisos fossem retirados imediatamente do local.
Uma nota foi enviada como resposta: “Com relação ao questionamento sobre o Ambulatório da Criança, a Secretaria de Saúde esclarece que o leite não está em falta na cidade. Ocorre que os profissionais que fazem a dispensação do produto verificaram que as latas estavam com o fundo oxidado. Então, o fornecedor foi comunicado, já recolheu as latas e a distribuição será normalizada nesta sexta-feira (2).” Não foi. No local, a informação é que o leite voltará a ser entregue na terça-feira. Mas isso não significa que as 150 crianças beneficiadas com cerca de 700 latas por mês não tiveram prejuízo. O que elas deveriam ter recebido em setembro não será reposto. Pior: o problema parece ser um maior que o revelado na resposta simplificada da Saúde.
Leite jogado fora
O GuarulhosWeb apurou que a falta de leite no Programa de Suplementação Alimentar agora seria resultado de um período de grande desorganização dentro do Ambulatório da Criança, onde não haveria um controle eficaz sobre o leite que chegava e o que saía do local. Há pouco mais de um ano, a gerência teria deixado vencer mais de três mil latas do produto usado no programa que fornece leite de soja sem lactose. Para não jogar tantas latas fora, já que teria ocorrido uma compra bem acima da quantidade necessária, teriam promovido a entrega de mais unidades do que era indicado para cada criança.
Mesmo assim, muito leite foi jogado no lixo em agosto de 2014, quando o lote venceu. No mercado, cada uma dessas latas – destinadas a crianças com sensibilidade a lactose – custa por volta de R$ 48,00. Coincidentemente, nesta mesma época era possível achar em anúncios classificados de um jornal de Guarulhos a oferta do leite Lan por R$ 5,00 a unidade. Não é possível afirmar que o leite comercializado no mercado paralelo saía do Ambulatório.
A situação, ainda segundo o GuarulhosWeb apurou, nunca chegou ao conhecimento da Secretaria Municipal de Saúde, já que o Ambulatório da Criança não apresentava relatórios de entrada e saída dos produtos e bancava toda a administração do programa de distribuição de leite. Internamente, o problema só teria sido identificado recentemente quando houve a troca no comando da unidade.
Quando a gerência do Ambulatório percebeu que havia muito leite em estoque, começou a fazer a distribuição descontrolada do produto. Em janeiro de 2014, muitas crianças estariam recebendo até 3 latas a mais que o prescrito como forma de desovar o leite prestes a vencer, sob o argumento que seria uma doação às famílias. Mesmo assim, em agosto, cerca de três mil latas teriam ido para o lixo. “Tudo foi levado para uma sala e jogado em sacos de lixo brancos”, relatou uma fonte.
Neste ano, um novo problema devido à falta de controle de entrada e saída de leite. Muitas latas apresentaram o fundo enferrujado. A administração do Ambulatório teria avisado o fornecedor, a Nestlé, que precisaria recolher o leite que estava impróprio para o uso, mas mesmo assim – depois de perceber o problema – permaneceu entregando o produto a mais. O material foi recolhido em 10 de setembro, mas a Nestlé identificou a falta de 80 latas que desapareceram, porque podem ter sido entregues a mais aos pacientes.
Nesta quinta-feira, dia em que os pais foram ao Ambulatório em busca do leite, o problema se agravou já que não havia mais produto para ser distribuído. A previsão é de que a situação só se normalize em novembro, apesar da nota enviada pela Secretaria Municipal de Saúde. O Ambulatório recebeu nesta sexta-feira latas de leite de 800 gramas, quando o programa prevê latas de 400 gramas, que são insuficientes para atender toda a demanda.
O programa prevê que crianças de 3 a 6 meses, sob prescrição médica, devem receber 10 latas por mês, de 7 a 12 meses, 8 latas; de 13 a 24 meses, 6 latas e, de 2 anos a 5 anos, 11 meses e 29 dias, 4.