Desde 9 de novembro, quando a primeira escola estadual foi ocupada em Diadema, a rotina dentro e fora das unidades de ensino sofreram mudanças. Existem alunos a favor das ocupações que chegam a passar dias nos locais sem retornar às suas residências e há também os que permanecem do lado de fora lutando pelas desocupações, apoiando a reorganização de salas e garantir o direto dos demais alunos de concluir o ano letivo.
Em Guarulhos, cinco escolas permanecem ocupadas. O GuarulhosWeb esteve na manhã desta terça-feira (1) para conhecer a rotina dos alunos da Escola Estadual Conselheiro Crispiniano, localizada na região central.
Uma aluna, de 17 anos, do 3º ano, contou que para uma melhor organização os alunos se dividiram em comissões: alimentação, limpeza, ronda e executivo. Cada grupo trabalha em turnos e pode participar de atividades culturais que acontecem em horários agendados.
Por ser uma escola grande e para evitar depredações, os alunos optaram por fechar algumas salas como a secretaria, a direção, biblioteca, sala de computadores e banheiros de professores.
Para controlar o acesso, pais e alunos permanecem no portão principal com uma lista de presença que marca o horário de entrada e saída. “Estamos bem organizados e sabemos quem está contra e a favor. Perguntamos a posição do aluno e se for contrária não deixamos entrar, assim evitamos tumultos e depredações dentro da escola”, explicou a aluna.
A alimentação acontece a partir de doações e são preparadas pelos próprios alunos, professores e pais. Além disso, eles se dividem em rondas noturnas, que evitam a invasão de pessoas contrárias à ocupação. “Sabemos que a qualquer momento podemos ser atacados aqui dentro porque o pessoal do 3º ano está completamente contra nossa ocupação e as rondas são feitas enquanto um grupo dorme”, explicou.
Apesar de estar matriculada no 3º ano do ensino médio e no próximo ano não fazer mais parte do quadro de alunos do E.E. Conselheiro Crispiniano, a aluna afirma: “Eu apoio porque tenho amigos aqui dentro, meus filhos vão estudar em escola pública e é uma causa da sociedade e não de que série estamos. Outro motivo, a Professor Frederico de Barros Brotero – escola para onde os alunos devem ser realocados – tem alunos com deficiência e aqui no Conselheiro não tem estrutura para alunos especiais. Além disso, estamos lutando para um ensino melhor porque o sistema educacional atual não é o correto”, encerrou.
Já os alunos que são contra a ocupação tem fora dos muros a missão de se organizar para discutir como a desocupação pode ser feita. Um aluno, também do 3º ano, contou que depois da interrupção de aulas, muitos não têm o que fazer durante o período em que deveriam estar na escola. “Alguns continuaram a rotina normal. Só não vão para a escola e à tarde seguem para o trabalho, cursos e outras atividades. Outros não fazem nada nem estudam, afinal faltavam quatro dias para terminar provas e atividades” explicou.
O aluno conta que estão sendo apoiados pelo Movimento Juventude em Ação, também contrário às ocupações. Através de um grupo em um aplicativo de mensagens, eles realizam discussões para iniciar a desocupação da Conselheiro Crispiniano.
“Eu acredito que as ocupações são um meio dos alunos se manifestarem, eles têm seus direitos, mas não acho necessário alguém de fora da escola, que não sabe o que acontece e não participa da escola influenciar os alunos como aconteceu no Conselheiro. Deveria ter acontecido uma assembleia com todos os alunos da escola para existir uma votação se seria ocupada. A escola foi ocupada simplesmente do nada sem nenhuma chance das pessoas que queriam terminar o ano pudessem opinar”, explicou.
O aluno afirma que os estudantes do 3º ano estão preocupados com o fim do ano letivo e com as matrículas nas faculdades que devem começar em janeiro.