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Retrato do abandono, Casarão corre risco de ser palco de nova tragédia

Admiradores e vizinhos do casarão localizado na esquina das ruas Felício Marcondes e Sete de Setembro, no Centro de Guarulhos, estão se sentindo desolados e preocupados com a situação do prédio tombado como Patrimônio Histórico, em 2000. No domingo, por pouco, a história do local não virou cinzas. No último domingo, um incêndio atingiu o assoalho de alguns cômodos, destruindo parte do piso. O Corpo de Bombeiros agiu rapidamente e evitou uma tragédia ainda maior. 
 
Apesar de não ser possível ver, pelo lado de fora, os estragos deixados pelo incêndio, a destruição na parte interna foi grande. O GuarulhosWeb, assim como qualquer cidadão, teve acesso ao interior do imóvel, que ficou aberto por conta do atendimento prestado pelo Corpo de Bombeiros, que precisou quebrar parte proteção de alvenaria para combater as chamas. 
 
Foi possível verificar que o assoalho de madeira do salão principal da casa foi danificado, assim como algumas paredes, da parte inferior. A responsável por uma página nas redes sociais de um grupo de moradores da cidade que lutam para que o local seja restaurado, Eliana Panariello, contou que há cerca de um mês esteve no casarão e pode circular por todos os cômodos, que estavam intactos. 
 
Uma vizinha do local, que não quis se identificar, contou que as noites dentro do casarão são agitadas. “Prostituição, presença de moradores de rua e brigas são constantes por aqui. Da minha casa eu consigo ouvir os gritos, nós não aguentamos mais ficar aqui, estamos pensando até nos mudar”, contou.
 
Ainda segundo a vizinha, um morador de rua vive no local e “faz o que a prefeitura não faz”, preservando o casarão e impedindo que ele seja ainda mais danificado. Porém o homem não teria conseguido impedir o incêndio.
 
Em novembro de 2015, o corpo de José Domingos dos Santos, de 50 anos, foi encontrado dentro do casarão. Santos foi encontrado por um amigo, também em situação de rua, que costumava dormir no local. O caso foi registrado como morte suspeita já que não havia sinais de violência. 
 
Na época o GuarulhosWeb esteve no local e constatou o livre acesso ao interior do imóvel. 
 
Durante o período que o GuarulhosWeb permaneceu no casarão, comerciantes de empresas instaladas ao lado estiveram no local e com uma chave abriram o portão de entrada de veículo. Por lá descarregaram e carregaram mercadorias além de ter livre acesso ao espaço. Os entrevistados confirmaram que a ação é comum.
 
O historiador e ex-presidente do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico, Elmi Omar, contou ao GuarulhosWeb que sentiu raiva após receber a notícia sobre o incêndio. “Nós acreditamos nas pessoas, na época em que eu estava no conselho foi confirmada a instalação de um anexo para facilitar o restauro e nada foi feito”, lembrou. Segundo Elmi, a fase é de “briga”, já que as participações populares, apoio e diálogos em reuniões não surtiram efeito. 
 
Sem entrar em detalhes, a Secretaria de Educação informou que “o projeto de reforma encontra-se na coordenadoria de compras e contrações para efetuar a licitação. O espaço, voltado aos profissionais da educação, será aberto à comunidade em geral”. Mas ninguém sabe quando isso pode ocorrer. Desde que deixou de sediar uma biblioteca municipal, no início dos anos 2000, o espaço, que foi a residência do prefeito José Maurício, encontra-se abandonado. 
 
Em 2013, a Prefeitura pagou aos antigos proprietários R$ 3 milhões pelo imóvel, que deveria se tornar um centro cultural, com recursos que viriam de uma parceria com o Governo Federal. Nada aconteceu. Da Secretaria de Cultura, o espaço foi passado para a Educação. Enquanto as autoridades se omitem, os guarulhenses que esperam pela preservação do espaço aguardam apreensivos o próximo capítulo desta novela. 
 

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