Cidades

Aulas inclusivas de música diferenciam Conservatório de Guarulhos

Superação e inclusão social. Esses são dois importantes valores incorporados pelo Conservatório Municipal de Guarulhos, na missão de oferecer aulas de música para crianças, jovens e adultos com deficiência, e integra também, desde o começo do ano, o Centro Municipal de Educação e Artes (Cemear), na Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer (Secel).
De acordo com o professor Fábio Bonvenuto, especialista em musicoterapia, a inclusão de pessoas com deficiência nas aulas de música regular vem se ampliando à medida que novos profissionais têm se dedicado a essa proposta. “A música é para todos, sem limite para quem tem ou não deficiência. Por isso, também realizamos um trabalho de profissionalização musical com 29 alunos, dentre os quais surdos, autistas e pessoas com Síndrome de Down”, explica.
Com ambientes que estão sendo adequados e adaptados às necessidades dos cursos oferecidos à comunidade, o Conservatório se destaca por iniciativas de inclusão musical, como o ensino de música para deficientes visuais, uma experiência enriquecedora tanto para quem aprende quanto para quem ensina.
A música significa um momento da minha vida
A aluna Bruna Caroline Neiva Ramos, de 23 anos, começou a estudar música aos 13 anos. Aprendeu a tocar tumbadora; percussão e bateria. Aos 20, quis aprender piano e sentiu muita facilidade com esse instrumento, principalmente porque costuma se apresentar com frequência na igreja que frequenta.
Bruna é autista e deficiente visual desde que nasceu. O professor de piano popular, Eduardo Dias de Souza Andrade, explica que, quando perde a referência, o deficiente visual sente certa insegurança, e isso era bastante comum quando Bruna passava de um acorde a outro. “Com o tempo, ela entendeu que tentar e errar são partes do processo de aprendizado; então, isso deixou de incomodá-la”, conta Eduardo.
A música foi dando mais segurança a Bruna e ajudou na combinação de fatores que precisaram ser adaptados, como a própria medicação e a terapia. Dedicada, Bruna pratica música cerca de 3 horas por dia.
Ainda de acordo com Fabio, Bruna tem ‘bom ouvido’, quase absoluto, o que significa dizer que ela tem a capacidade de perceber e dar nome a cada uma das notas que chega aos seus ouvidos. Com muita destreza, ela captura com facilidade tons que o professor emite com a ajuda de tubos de percussão afinados.
Superar limites, vencer barreiras
O professor Eduardo conta que nunca tinha lecionado para alunos cegos. Assim como Bruna, ele também passou por um processo de aprendizado, precisou se adaptar ao modo de ensiná-la, esbarrou no entendimento de suas especificidades, e ajudou-a em seu processo de socialização.
“Eu e o Fábio sempre fizemos um trabalho em conjunto porque a escrita teórica em Braile é muito diferente; então, eu costumo trazer as partituras das músicas e exercícios para o Fábio, ele ajuda Bruna a transcrevê-los e os imprime, e ela os leva para casa a fim de estudar”, revela Eduardo.
Para que Bruna possa fazer as partituras em Braile, Fábio utiliza um software chamado Musibraile: “É uma técnica de Musicografia Braille, um programa desenvolvido no Brasil pelos pesquisadores Dr. Antônio Borges e Dra. Dolores Tomé, da UFRJ. Aqui no Conservatório Municipal, testamos o programa e  fizemos observações aos criadores sobre o que precisa ser modificado e melhorado”.
Com o tempo, Bruna também desenvolveu didática para explicar música para outros alunos, uma vocação que vem sendo trabalhada pelos professores para que, num futuro não muito distante, ela possa se tornar professora e ensinar outros alunos deficientes, com o mesmo carinho e dedicação com o qual aprendeu.
Os frutos desse trabalho realizado nas aulas de música vão bem além de qualquer limitação ou barreira. Com outros colegas de Conservatório, Bruna montou uma banda, a Bengala Branca, que tem em seu repertório alguns sucessos conhecidos, como “O Sol”, da banda Jota Quest, “Meu Erro” e “Lanterna dos Afogados”, dos Paralamas do Sucesso, “Ciúmes”, do Ultraje a Rigor, “Close to You”, de Burt Bacharach, entre outras.
Para aqueles que desejam estudar música, mas que ainda não estão motivados, Bruna deixa um recado bastante animador: “Aprender música não dói e não adianta ficar nervoso, porque senão você nunca aprende. A música é muito boa, aprender a ler as partituras, a tocar; se errou, conserta; se acertou, palmas”.

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