Em maio de 2015, o HMU (Hospital Municipal de Urgências) de Guarulhos foi fechado pela Vigilância Sanitária depois que quatro pacientes morreram devido à contaminação por uma bactéria. O assunto foi tema de reportagens nos principais veículos de comunicação do Brasil e serviu para expor mais uma vez a precariedade no atendimento médico prestado por aquela unidade de saúde municipal, resultado de mais de 15 anos de completo abandono por parte das últimas gestões municipais. Naquele momento, o hospital foi obrigado a fechar as portas para a população por mais de uma semana, até que um amplo serviço de desinfecção fosse realizado no local.
Dois anos depois, o novo governo municipal encontrou o HMU mais sucateado ainda. Diante do quadro de completo caos, o prefeito Guti decidiu firmar – em caráter emergencial – um convênio com o Instituto Gerir, uma organização não governamental referência em atendimentos de urgência e emergência na cidade de Goiânia, capital de Goiás. O objetivo principal era transformar de forma rápida os serviços médicos prestados à população. Imediatamente, o hospital municipal passou por um processo de mudanças, com reformas no prédio e nas práticas hospitalares, que incluíram a construção de uma nova recepção e da emergência.
No início de 2017, o hospital atendia menos de 12 mil pacientes por mês, mesmo assim em caráter precário. Tanto que o HMU colecionava queixas publicadas sistematicamente nos diferentes veículos de comunicação da cidade e de São Paulo. No ano passado, uma equipe do GuarulhosWeb tentou ser atendida no hospital, quando um repórter se passou por paciente. Depois de mais de cinco horas de espera entre centenas de pacientes que se apertavam numa precária sala de espera, o profissional foi dispensado porque não havia médicos de plantão. As reclamações da população passavam por falta de médicos, demora na triagem e até diagnósticos errados.
Em novembro de 2016, o GuarulhosWeb teve acesso a uma carta escrita por um médico, que se demitiu do hospital por não concordar com as práticas e caos instalado no HMU, devido à incompetência e “facilidades” oferecidas a profissionais que aceitavam as condições propostas pela municipalidade. O caso teria sido encaminhado ao Ministério Público Estadual. Pessoas que trabalharam no HMU em diversos cargos denunciavam que diretores da unidade estariam cooperando com irregularidades nos registros de plantões extras. O valor gasto com a prática chegaria a aproximadamente R$ 6 milhões por ano. “Enquanto isso, o hospital não tem nem maca”, dizia o médico na carta.
Ao se desligar, o profissional relatou que o hospital não possuía condições de trabalho, além de não oferecer ambiente necessário para o atendimento dos pacientes, com alto número de infecções hospitalares, falta de medicamentos, ausência de macas e infraestrutura mínima necessária. Ele lamentava, inclusive, o descaso com os servidores municipais, muitos que apresentavam um quadro crítico de depressão devido à impossibilidade de dar um atendimento digno à população.
Tudo diferente
Seis meses depois de assumir a gestão do complexo hospitalar, o Instituto Gerir conseguiu modificar completamente o HMU, elevando o número de atendimento diário para 600 pessoas que passam nos mais diferentes tipos de atendimentos ambulatoriais e de urgência e emergência.
Na última segunda-feira, o prefeito Guti inaugurou o novo setor de emergência do Hospital Municipal de Urgências, que permitiu dobrar a capacidade de atendimento. A nova ala, construída com recursos da iniciativa privada, além de aumentar de 600 metros quadrados para 1.162, contempla tudo o que existe de mais moderno em termos de medicina no atendimento a pacientes graves.
Com a reforma, o número de leitos da ala de emergência saltou de 30 para 45. O setor ganhou mobiliário novo, ampla recepção; consultório de ortopedia; conforto médico; ambiente de repouso para a enfermagem; salas para medicação, inaloterapia, eletrocardiograma e sutura; espaço de guarda pertences para os pacientes; serviço de profilaxia da raiva com sala de acolhimento; e espaço específico para o acondicionamento de macas, que antes ficavam espalhadas pelos corredores.
Hoje, graças à parceria firmada entre Prefeitura e Gerir, a classificação para o atendimento dos pacientes é feita pela Sala Vermelha (muito críticos) e Sala Amarela (casos graves). Depois dos primeiros socorros, o paciente é encaminhado para a Sala de Estabilização de onde será removido para a cirurgia ou para a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), dependendo de cada caso.
Além de melhorar as acomodações, a estrutura física e a rede de gases, o HMU passou por uma mudança na dinâmica da assistência, que já resultou na diminuição da taxa de óbitos na UTI, bem como na redução da taxa de permanência dos pacientes no hospital. A taxa de mortalidade esperada em UTIs é de 27,3%, sendo que o HMU registra atualmente 19,6%. A taxa de permanência do paciente no hospital caiu de oito dias para 4,9.
A inauguração da nova ala de emergência do HMU encerra a primeira fase das obras do hospital, que já conta com a recepção humanizada, além de tomografia computadorizada e raio-X digital, entregues em julho passado. O próximo passo, agora, será a reforma da UTI que está projetada para ser uma das mais modernas do Brasil.