Dorivaldo Gomes é baiano de Itabuna. Tem 72 anos e mais de 500 medalhas. É baixo e fala baixo, com gentileza e respeito com quem dialoga. Mora em Guarulhos há 54 anos e é um dos atletas que, superando desafios e estatísticas, sempre coloca a cidade nos pódios do esporte pelo país.
Em abril deste ano, conquistou os 1º e 2º lugares nas maratonas de Santiago e Rio de Janeiro, respectivamente, na categoria acima de 70 anos. Em ambas, foram percursos superiores a 3h30. Maratonas são corridas com distância oficial de 42,195 km, normalmente realizadas em ruas e estradas.
Para a conta de Dorivaldo estão também os 1º lugares nos pódios das maratonas de São Paulo, em 2010, e de Porto Alegre, em 2015. “Correr é bom demais. Correr te traz equilíbrio, poder de concentração, vida”, conta o atleta amador que deixou a Bahia em 1964 para “tentar” a vida, como tantos, no estado de São Paulo.
Sua infância foi dura. Vivia em Tanquinho, município localizado na Região Metropolitana de Feira de Santana. Era o menino mais velho dos seis filhos de dona Doralice, a mãe que hoje tem 94 anos de idade e vive com ele em Guarulhos. “Às vezes até farinha faltava e para chegar à escola era só depois de finalizado o trabalho na roça, com muita caminhada”.
O caminho de vinda para o estado de São Paulo foi de pau-de-arara e ônibus. “Aquele tempo era de muito trabalho: fui servente de pedreiro, vendi frutas e até taxista fui”, conta. Tornou-se motorista da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e permaneceu naquela função até a sua aposentadoria.
Início no Esporte – Foi aos 26 anos de idade que começou a praticar esporte, tarde para atletas de alto rendimento, mas não para a vida. Começou com a luta-livre, chegando a treinar com o lendário Ted Boy Marino, um dos precursores da modalidade no País e que fez bastante sucesso durante os anos 1970 e 1980.
Não parou por aí. Praticou halterofilismo, judô, karatê, hapkidô, capoeira. Hoje, como atleta amador, divide seu tempo entre os treinos e os cuidados com sua mãe e seus filhos, Cleverson, Cleyton e Cristiano, que compartilham com o pai o amor pelo esporte, em especial pela capoeira.
Rotina de atleta – O dia a dia de Dorivaldo é de disciplina. Acorda por volta das cinco da manhã e vai correr no parque, geralmente no Bosque Maia. É assim todos os dias, com exceção daqueles em que precisa viajar para competir. A alimentação é normal e regada por cocadas, o doce preferido do atleta, que inclusive recebeu este apelido – Cocada – por tão bem fazer o quitute e distribuir entre os amigos.
“As nutricionistas me puxam a orelha porque não tenho disciplina com a comida”, envergonha-se. A corrida também o ajudou a abandonar o tabagismo, embora nunca tenha sido um fumante inveterado, apenas em encontros sociais, como ao tomar cerveja com amigos e familiares.
Dorivaldo é uma pessoa muito espiritualizada. Acredita em Deus e coloca nele sua vida, suas conquistas, sua gratidão. “Tudo o que nós temos que buscar em primeiro lugar é o Criador, Jesus, e em segundo você e depois os irmãos”, ensina.
Entre as boas lembranças que guarda, para além das vitórias e pódios, está o fato de ter sido um dos 12 mil brasileiros que conduziu a chama olímpica em 2016 por um trecho de aproximadamente 200 metros, em Guarulhos, cidade onde reside há 52 anos.
Carregar a chama simboliza que eu represento o Brasil, os atletas, a humanidade em geral e isso é muito gratificante, sei que estou levando um incentivo para a prática do esporte e o esporte é o remédio da vida”, contou.
Praticante de reiki, um sistema natural de harmonização e reposição energética que mantém ou recupera a saúde, Dorivaldo prega o bem e defende que cada um seja instrumento transformador no mundo, irradiando bons pensamentos para aqueles que o cercam.
Para 2018, Cocada planeja disputar as maratonas de Montevidéu (1º semestre) e Boston (2º semestre). Para isso já começou a captar apoio. “Tudo sai do meu bolso e dos apoios que consigo. Espero conseguir disputar as maratonas no ano que vem e colocar Guarulhos e o Brasil no pódio novamente”, disse o atleta.
Ele é assim. Um homem simples e campeão. Os troféus, as medalhas, o uniforme que vestiu para conduzir a chama olímpica, tudo está em casa para comprovar sua grandeza, suas conquistas, assim como sua história exemplar de superação.