Cidades

GRU 457 – Em um ano, Guti imprime novo jeito de ser prefeito

Às 19h, o gabinete do prefeito Guti (PSB) ainda estava movimentado. O entra e sai congestionado de moradores, vereadores e um deputado estadual em seu gabinete atrasou em uma hora a entrevista pré-agendada. São muitos os temas e demandas que se ouve pelos corredores do Paço Municipal, no Bom Clima. E não podia ser diferente. Guarulhos tem 1,3 milhão de habitantes e uma imensidão de problemas. 
 
Guti parece sonhar com eles nas poucas – quatro – horas de sono que tem por noite. Quando recebeu o GuarulhosWeb, revelou estar cansado. Vestia calça jeans, camiseta polo, sapatênis e um sorriso. Pudera, para além da solenidade que o cargo lhe investe, o atual prefeito tem apenas 32 anos. Completará 33 em 30 de dezembro.
 
Ele é o prefeito mais novo da história de Guarulhos. Antes fora o vereador mais novo da casa legislativa do município. O chefe do poder Executivo não entra para a história apenas por ser o mais jovem, mas por ser o mais votado. A placa com o diploma de sua posse, pregada na recepção de seu gabinete, não o deixa esquecer que 481.541 cidadãos acreditaram em seu projeto de governo, lhe depositaram esperança.
 
“Colocaram uma expectativa muito grande em torno de mim. Com o volume de trabalho e essa expectativa não me resta outra coisa senão trabalhar muito”, disse o prefeito que chega a trabalhar das 7h às 23h. 
 
Ele já foi atleta. Praticava tênis com regularidade, chegando a ser treinado pelo norte-americano Nick Bollettieri, um dos maiores expoentes mundiais em preparação tenística. Gostava de diversos outros esportes. Anima-se ao falar do time de vôlei de Guarulhos, uma parceria com Corinthians, mas teve de abdicar de sua vida esportiva e social para dar conta da vida de líder de uma cidade. Hoje, o único esporte que pratica é o “prefeitar”, usando um neologismo.
 
Guti gosta de música, o rock clássico sempre o acompanha, inclusive no trabalho. Suas leituras atualmente estão mais técnicas. São relatórios, projetos de lei. O último livro que leu foi A Marca da Vitória. Ele mesmo chegou a escrever um livro infanto-juvenil ao lado de seu irmão, intitulado Salve o Anjinho da Guarda. 
 
Ainda no tema arte e cultura, o prefeito destaca o trabalho do artista guarulhense Elvis Mourão. “A arte dele já virou modelo de óculos da Ray-ban. Gosto de puxar sardinha para quem esta perto da gente”, admite.
 
O prefeito perdeu sua mãe, vítima de câncer, quando pequeno, aos quatro anos de idade. Foi criado pelo pai. Talvez daí, do exemplo, é que tenha surgido o desejo de construir sua família. Quer ser pai um dia e para isso conta com sua namorada, a advogada Fernanda Facchini. 
 
O prefeito não esconde sua paixão. “Ela é muito parceira, paciente, extraordinária. É óbvio que ela queria ter mais tempo comigo, mas ela até brinca que é a segunda, a primeira é Guarulhos. Ela sabe que tenho um chamado da população para resolver. Tenho um legado a construir. Depois disso teremos mais tempo”, confidencia.
 
De volta à rotina, Guti revela que sua alimentação está passando por uma adequação, já que andava prejudicada pela intensa agenda de trabalho. “Pedi que arrumassem uma cozinha improvisada para mim aqui mesmo pra que eu pudesse fazer minhas refeições de modo mais saudável”, disse de maneira bem humorada, apontando para a porta de madeira que divide seu gabinete e lhe possibilita almoçar em cerca de dez minutos, entre um despacho e outro, ou, diria ele, entre um problema e outro.
 
Buracos, déficit de moradias, de vagas em creches, processos licitatórios, falta de estrutura, ginásios abandonados, saúde ainda precária. Ele admite as lacunas de sua gestão e pondera com dados da realidade financeira do município. 
 
“Essa é a segunda cidade do Estado. Temos um problema gigantesco, que são as finanças do município. Herdamos uma dívida enorme de R$ 7,4 bilhões. Quando eu era vereador sabíamos de R$ 4,6 bilhões de dívidas, nós sabíamos que seria duro, mas a realidade nos mostrou que seria muito mais difícil”, justifica-se o prefeito, comparando a realidade de São Paulo com a de Guarulhos.
 
“Nós temos uma dívida semelhante à de São Paulo, só que nós vamos arrecadar até o final do ano R$ 3,7 bilhões. São Paulo tem R$ 56 bilhões de orçamento, então é uma realidade muito diferente e além de estar toda endividada não temos a infraestrutura necessária. […]. Temos dívidas e não resolvemos os nossos problemas de infraestrutura. Essa é a ginástica diária que nós temos que fazer entre pagar dívidas e levar uma melhor qualidade de vida ao guarulhense”.
 
Só de precatórios, o governo paga R$ 6 milhões por mês. Para fiscalizar seu trabalho, Guti conta com uma oposição ativa na Câmara Municipal, encabeçada por vereadores que em gestões passadas eram em sua maioria secretários do governo, além de uma base que lhe garante sustentação confortável na hora da aprovação de projetos de iniciativa do governo.
 
A oposição, inclusive, foi a função que cumpriu nos últimos oitos anos, fiscalizando o trabalho de seu antecessor, Sebastião Almeida (ex-PT, agora PDT). “O vereador tem uma responsabilidade com a sociedade e eu trabalhava bastante, via e apontava os problemas, mas agora muda a responsabilidade. Ela á muito maior. Todos os problemas são reportados ao prefeito”, desabafa.
 
E ele gosta de ser prefeito. Está à vontade naquela cadeira, à frente dos pendões do município, do Estado, do País. “Não tenho mais vida social ou lazer em família, mas amo meu trabalho, amo me dedicar à cidade e vou continuar me dedicando nos próximos anos da mesma maneira que me dediquei nesse primeiro”. 
 
O que o move? O desejo de ver uma Guarulhos melhor para os cidadãos de hoje e das próximas gerações, mas não só. Guti, embora defenda o estado laico, é cristão e acredita que Deus o orienta na condução da cidade. “Conto com Deus, ele que guia todos os meus passos, ele que me blinda. Outras religiões que fazem o bem para as pessoas têm que ser praticadas, é um método através do qual a gente consegue também ter uma paz social”.
 
Para 2018 Guti quer sanar a falta de medicamentos nas unidades de saúde. “Conseguimos avançar bem, mas ainda falta bastante coisa”. Quer terminar o Hospital Pimentas, acabar o Trevo de Bonsucesso, concluir todos os CEUs e todas as creches. Melhorar estruturas de esporte. “O Fioravante, o Thomeozão, o João do Pulo. Todos são espetaculares, mas estão ainda totalmente jogados. Estamos trabalhando muito e não vamos parar”.
 
A entrevista terminou pouco antes das 20h. O entra e sai no gabinete do prefeito Guti continuaria até o fim dos trabalhos daquele dia. Mais uma quarta-feira na história dos 457 anos de Guarulhos.
 

Posso ajudar?