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Pastoral Carcerária leva esperança a presos do Parada Neto em Guarulhos

Ronaldo (nome fictício) está preso há 13 anos. Tem 33 de idade. Sua família mora em Pernambuco e seu “jumbo” (nome dado a materiais enviados por famiiares) chega via Sedex até a Penitenciária José Parada Neto, todo mês, ali na rodovia Presidente Dutra, na cidade de Guarulhos. O par de óculos pequenos e a cabeça raspada do jovem completam o uniforme: calça cor cáqui, camiseta branca e um par de havaianas brancas.
 
Era assim que estava vestido na manhã desta quinta-feira, 28, e em todas as outras manhãs que por ali deve viver até abril de 2018, quando deixará o sistema prisional. Parado em frente à capela do presídio, cumprimentava a quem chegava para a missa de encerramento do ano organizada pela Pastoral Carcerária da Diocese de Guarulhos. 
 
“Receber esse apoio espiritual é muito importante pra suportar a vida aqui dentro. Ajuda a colocar a cabeça no lugar pra quando chegar a hora de sair daqui, porque eu sei que não será fácil. Ninguém dá emprego para ex-presidiário”, disse o jovem que estava no intervalo de seu trabalho na cozinha, onde providencia as refeições dos 2.342 presos.
 
A capacidade deste presídio, segundo informações da Secretaria da Administração Penitenciária, é de 838 pessoas. O anexo ao presídio que abriga presos em regime semiaberto tem capacidade para 254 e conta com 342 indivíduos.
 
Quando chegou à prisão Ronaldo era católico. Dentro da cadeia tornou-se protestante da Igreja Batista. “Todas as religiões levam a Deus e eu respeito todas”, disse o jovem, despedindo-se para retornar ao trabalho. Ele se esquivou de falar do passado, do crime que cometeu.
 
Na Penitenciária Parada Neto doze diferentes denominações religiosas têm espaço para a assistência religiosa. A Pastoral Carcerária (PCr), que é assistência católica, faz esse trabalho por todo o país. “Nós levamos a palavra de Deus, lá nós os ouvimos. São nossos irmãos e estão ali cumprindo uma pena, mas que seja com dignidade”, comentou Rosa Pereira Lima, coordenadora da pastoral na cidade.
 
Rosa nunca está sozinha. São vários os agentes da pastoral que voluntariamente dedicam um tempo de suas vidas para levar algum conforto e assistência jurídica aos que cumprem pena. Padre Valdocir Aparecido Raphael é assessor diocesano da PCr. Tem 66 anos de idade e visita presídios há 32. Hoje ele divide seu tempo como vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora Aparecida do Cocaia e três comunidades, mais a assessoria da pastoral e visitas aos presídios.
 
“Esses homens e mulheres presas, bem como os funcionários do sistema carcerário, precisam da nossa presença e oração. Eles precisam de esperança e celebrar Jesus é celebrar a esperança”, disse o padre que presidiu a missa na capela – nada improvisada – do presídio. Microfones, bancos de igreja e missa com direito a baixo, guitarra e bateria, tocadas por presos dos três pavilhões.
 
“Agradeço muito a presença de todos vocês aqui. Obrigado por acreditarem em nós e nos devolverem a esperança, porque assim como Jesus foi preso um dia, hoje nós estamos presos e daqui sairemos novos”, disse emocionado Jerônimo Aparecido de Oliveira, 50 anos, detento que era e continua sendo católico praticante.
 
Ao final da missa, Telma Maria Costa Martins, diretora técnica do presídio, disse que a presença das diferentes denominações religiosas é muito importante no ambiente prisional e auxilia no trabalho de todo o corpo de funcionários, que nem sempre é fácil. 
 
Após o abraço da paz, homens de diferentes cores e idades voltaram aos pavilhões para a vida no cárcere, possível de ser vista naquela visita apenas por pequenas janelas e grades. Ali, diferentes mundos, culpas e penas se misturavam enquanto a reportagem e os agentes da Pastoral Carcerária atravessavam os portões e os agentes penitenciários, um a um, até a liberdade.
 
 
 

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