Cidades

Projeto de prevenção de violência doméstica adota tática intimista de orientação

A Prefeitura de Guarulhos e o Ministério Público do Estado de São Paulo assinaram, na última quinta-feira, 5/04, um termo de cooperação técnica para que um projeto que já é lei na cidade seja efetivamente implantado. Nesta sexta-feira, 6/04, o GuarulhosWeb conversou com a promotora Fabíola Sucasas Negrão Covas, idealizadora do PVDESF (Prevenção de Violência Doméstica como a Estratégia da Saúde da Família).
 
“O nome é grande assim mesmo. Porque queremos que seja um projeto efetivo, e não uma marca, algo para ser explorado indevidamente. Precisa ser política pública. Já é lei em vários municípios, mas o passo dado nesta quinta vai no sentido da efetividade”, explicou.
 
Segundo a promotora, a estratégia de usar a Secretaria da Saúde para orientar as mulheres vítimas de violência tem dois objetivos principais: um deles é o da proximidade que a abordagem utilizada por agentes do programa Saúde da Família, visitando as residências, pode garantir. “Muitas mulheres não saem de casa para denunciar a violência que sofrem. Se alguém treinado chegar perto da maneira correta, essa orientação pode ser feita com menos dificuldade”, disse.
 
A outra razão apontada por Sucasas é o fato de demonstrar o quanto o setor da Saúde pode ser encarado pelas mulheres violentadas como uma opção melhor para sair do ciclo da violência. “A violência doméstica é um problema de saúde pública. Mas, costumeiramente, as mulheres procuram apenas setores de segurança e justiça. Mas isso pode e deve ser ampliado para o setor da saúde e da assistência social”.
 
A promotora aponta o caminho da conscientização como o melhor para aconteça a mudança cultural que acabe com o cenário assustador da violência contra as mulheres. “Nos dias de hoje ainda convivemos com números espantosos. São 12 mulheres assassinadas por dia, uma a cada hora e meia. Fora o que acontece antes dos homicídios”, afirmou.
 
Segundo a especialista, pesquisas mostram que nos casos de feminicídio sempre houve relacionamentos abusivos. “A maior parte das vítimas são mulheres jovens e negras, mas esse problema é injustamente democrático”, apontou. “Precisamos manter o diálogo com essas mulheres. Elas precisam entender que isso não é normal. Que nossa sociedade ainda romantiza o ciúme, o controle machista. Elas precisam entender que não têm culpa. E deixar de lado o silêncio”.
 
Segundo levantamento de 2017, 27% das mulheres violentadas não acusam o agressor. E isso abrange também a violência contra mães idosas e crianças, além das companheiras. “Precisamos chegar antes. Se a gente não orientar, elas continuarão sendo violentadas sob a pressão do medo, da vergonha, da dependência financeira”, completou a promotora.
 
O acordo de cooperação foi assinado pelo prefeito Guti e pelo procurador geral em exercício Walter Sabella. Fabíola Sucasas fez questão de ressaltar a importância do trabalho de pessoas da cidade, que vão garantir a manutenção do projeto, como Daniela Romanelli, promotora da Violência Doméstica, a subsecretária de Políticas para as Mulheres, Verinha Souza, e a equipe comandada por Ana Cristina Kantzos.
 
O próximo passo será realizar treinamento com 750 agentes comunitários de Saúde da cidade, para abordar mulheres em situação de risco e distribuir cartilhas sobre o problema da violência doméstica e como enfrentá-lo, buscando ajuda.
 

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