Pessoas que vivem no bairro do Cabuçu reclamam da ampliação de um aterro sanitário na região. A insatisfação começou quando a CDR Pedreira – Centro de Disposição de Resíduos S/A solicitou um Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (EIA/RIMA) ao Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) para a realização do projeto. O GuarulhosWeb foi até os bairros próximos neste final de semana e ouviu a opinião de diversos moradores.
Morador do Cabuçu há 12 anos, o publicitário Ricardo Silvestre afirmou ser contra a ampliação. “Eu desaprovo. Tenho amigos e familiares na região que também são contrários à ideia. Ampliar o aterro sanitário não vai promover benefício nenhum à população local. Pelo contrário, só haverá malefícios. Estamos falando de um aterro que não deveria existir próximo a uma área residencial”, disse.
Silvestre também argumentou que, com a ampliação do aterro, resíduos seriam depositados em um terreno vizinho a uma Área de Preservação Ambiental. “Vivemos em um local cercado pela Serra da Cantareira. Por isto, deveríamos ter projetos que favoreçam ainda mais o meio ambiente e não que ameacem a nossa fauna e flora. Pelo que tenho visto e acompanhado, este pensamento é compartilhado por todos os moradores do Cabuçu”, completou o publicitário.
Outra moradora do bairro, que não quis se identificar, tem a mesma opinião de Silvestre. “Não acredito que este projeto seja voltado para o povo”, limitou-se a dizer. Em entrevista à TV Globo, a dona de casa Rosendi Fonseca também mostrou preocupação em relação à ampliação do aterro. “Tem a questão ambiental e o medo de que haja um desmatamento na área. Há, também, uma reserva de água que abastece toda a região. Outra coisa que incomoda a população é a retirada das famílias de suas casas para a realização do projeto”, reclamou.
Mesmo quem vive há pouco tempo no Cabuçu critica a ampliação do aterro. Estudante de psicologia e na região há três meses, Alan Ribeiro também discorda da iniciativa. “Eu tenho acompanhado o assunto e sou totalmente contra isto. É algo que mexe completamente com a vida das pessoas em vários âmbitos. Talvez, para se ampliar o aterro, na questão de moradia, haja desapropriações. Com esta possível mudança, muitos iriam morar longe de seus locais de trabalho. As crianças teriam que ser transferidas a outras escolas. Então, haveria todo um período de adaptação, não só no ensino como no lazer”, justificou.
Ribeiro ainda questionou o impacto que o projeto causaria à saúde da população local. “Quem vive perto de um aterro fica mais vulnerável a doenças. Além de alterar a vida das pessoas, vai afetar os animais também. O Cabuçu é uma região de mata. Tem pássaros, macacos e outros bichos por aqui”, concluiu. O morador ignora que a região já abriga dois grandes aterros e não existe até hoje qualquer registro de infestação de ratos ou baratas ou mesmo proliferação de doenças nos bairros próximos.
Ex-moradora da região, a socióloga e bancária Camila da Silva R. Machado viveu por 19 anos no bairro e ainda tem parentes que moram no local. Para ela, o caso do aterro é mais um que mostra o histórico descaso do poder público com o Cabuçu. “Em 2016, fiz uma pesquisa acadêmica sobre o Rodoanel, que também prejudicou muito quem morava por ali. Sou contra o aterro, não somente pela questão da fauna e flora que serão extremamente afetadas, mas, também, por saber que as relações sociais serão ainda mais prejudicadas do que foram pelo Rodoanel”, analisou Camila, que acrescentou: “Não creio que muita coisa descrita no Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) será obedecida”.
A socióloga ainda destacou que a população deve ter perdas financeiras com o projeto. “Famílias que antes tinham suas casas espaçosas, seus sítios ou pequenas chácaras passarão a morar em micro apartamentos do outro lado da cidade. Outras aceitarão uma miséria de indenização em relação ao que gastaram com a construção de seus imóveis ou mesmo se sujeitarão a morar de aluguel em residências com menos conforto”, analisou.
OUTRO LADO
O GuarulhosWeb enviou uma série de questionamentos à CDR Pedreira, baseados nas reclamações feitas pelos moradores. A empresa respondeu algumas questões e ficou de enviar novos esclarecimentos, que serão tema de outras reportagens. A empresa garante que não há qualquer ameaça ao meio ambiente e que a área escolhida já está degradada, por servir como depósito de dejetos desde 2001. Tanto que a Lei de Zoneamento, aprovada em 2007, permite apenas a instalação de um aterro ou extração mineral naquele local.
A empresa esclarece que apenas 1% de mata será suprimida, mesmo assim com reposição florestal que corresponde a dez vezes mais esse número. Reforça ainda que nenhuma família será desalojada, já que o aterro ficará numa área particular, sem a necessidade de qualquer desapropriação ou remoção de pessoas.
A CDR esclarece ainda que a ampliação não efetuará nenhuma intervenção nos recursos hídricos locais. A Estação de Tratamento de Água Tanque Grande, mantida pelo Saae na região, capta água de uma represa distante da área de ampliação e que essa água captada não passa pela área de ampliação.