Cidades

Déficit de profissionais da Polícia Civil em Guarulhos ultrapassa 190 policiais

Delegacias lotadas, falta de profissionais e prédios sem estrutura é o que encontra o guarulhense quando procura pelo atendimento da Polícia Civil na cidade. O problema visível para a população é ainda maior quando analisado a fundo. Esta é a função da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP). Nesta sexta-feira, 08/02, o presidente da entidade, Gustavo Mesquita Galvão Bueno, esteve no GuarulhosWeb para falar sobre os problemas da categoria.
 
Bueno é guarulhense e trabalha como delegado de polícia há 10 anos e há 1 ano está à frente da associação. “O nosso grande desafio é ver uma Polícia Civil do Estado de São Paulo fortalecida. Após observar o estado de crescente descaso por parte do governo estadual, eu, amando a profissão, a instituição e a carreira, me senti no dever de lutar”, afirmou.
 
Segundo Bueno, Guarulhos tem previsto por lei o total de 750 policiais, que deveriam ocupar cargos nas nove delegacias existentes na cidade. Atualmente, menos de 550 atuam no município. “Isso acaba prejudicando o serviço prestado à população. Muitas vezes o cidadão vai até a delegacia e enfrenta filas. E ele tem que saber que o culpado disso é o governo, muitas vezes não é a Polícia Civil. Os policiais estão ali pagando o preço cuja a responsabilidade é do poder público, que tem o dever de prestar à população uma segurança pública adequada”.
 
Com relação ao novo governador João Dória, o presidente da associação afirma que a situação da Polícia Civil foi exposta durante a campanha eleitoral e houve um comprometimento para que a devida atenção fosse dada ao caso, com novos equipamentos, novas viaturas e armamentos. “Nos preocupa um pouco o fato dele não falar sobre o mais importante, que é valorizar o policial civil. Valorizar o material humano antes de falar em equipamento. Hoje o delegado paulista recebe o pior salário do País e os policiais estão nas últimas colocações. Este quadro precisa ser revertido até porque, se a carreira continua não sendo atrativa, o déficit vai continuar existindo”, explicou.
 
Delegacia da mulher
As delegacias da mulher no Estado de São Paulo funcionam apenas no período comercial. Após os horários e dias de atendimento, a vítima deve procurar uma delegacia de plantão, que em sua grande maioria não conta com profissionais mulheres ou agentes especializados em crimes do gênero. 
 
Uma das propostas do novo governo é a abertura de delegacias da mulher 24 horas por dia. Apesar de apoiar uma ação imediata para este tipo de crime, a ADPESP acredita que neste momento, com a defasagem de profissionais, seria algo inviável. Para o projeto ser colocado em prática, com o efetivo atual, seria necessária a retirada de policiais femininas de departamentos importantes da instituição, com destaques em seus setores, o que prejudicaria outras áreas.
 
“Apesar da intenção do governador nos parecer positiva talvez não seja a de melhor prática do ponto de vista técnico. É preciso focar na questão da investigação. Isso vai desestimular a prática de novos crimes contra a mulher. Esta investigação não precisa ser feita necessariamente nestes plantões de delegacias específicas, compostas somente por mulheres. A competência não depende do gênero”. 
 
Posse de arma
O assunto posse de arma virou o “da moda” após a campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro defender abertamente a ferramenta. Bueno opinou que a posse é um assunto muito discutido entre a categoria e causa divergências de opiniões. Para ele, uma flexibilização é bem-vinda. “Eu entendo que o cidadão deve ter o direito à legítima defesa. Até porque o Estado não consegue prover a ele a segurança. Por isso, a questão da posse – quando o indivíduo pode possuir uma arma dentro de casa – deve ser um direito sagrado de qualquer cidadão, para defender sua residência e sua família. Quem entra na casa de alguém, sem seu consentimento, tem que assumir o risco de morrer”.
 
O delegado defende ainda uma mudança de cultura e educação da população antes da liberação. 
 
Setor para combate à corrupção e lavagem de dinheiro
O combate à corrupção é uma das principais bandeiras defendida pela associação. Para Bueno, a corrupção está ligada à segurança pública. Alguns exemplos são os grupos de facções criminosas, tráfico de drogas e outros delitos. Atualmente o principal setor responsável pelas investigações relacionadas à corrupção é a Polícia Federal. 
 
Para a associação, em alguns casos cabe à Polícia Civil realizar este tipo de investigação. Há até um projeto piloto inaugurado em Guaratinguetá, que já apresenta resultados positivos, como afastamento de funcionários municipais. A segunda unidade foi formada em Jaú. “Gostaríamos muito de ver um setor deste criado aqui na Seccional de Guarulhos. Acredito que isso seria algo que a população poderia clamar. Ninguém melhor do que a população para pedir aquilo que é de direito”.
 

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