Quando ela foi colocada num pau-de-arara – aquele instrumento de tortura usado pela repressão políticas, contra estudantes e trabalhadores oposicionistas -, conforme Ketno Lucas, mestre em História, num artigo para o site New Order.
Rios foram represados e poluídos, condenando à miséria os ribeirinhos, em favor de hidrelétricas e garimpos. Estradas profanaram a selva, levando doenças e marginalidade aos índios. Florestas viraram pastagens de bois.
Agora, são grandes queimadas que preocupam. E, de um lado, movimentam países da Europa, supostamente empenhados no equilíbrio ecológico do planeta. De outro lado, mobilizam duas potencias imperiais – Estados Unidos e China, ambos clientes do nosso agronegócio. E que atingem até o Papa Francisco, com sua solidariedade humanística. Trata-se de poderosos atores que usam suas forças de pressão para encurralar o (des)governo Bolsonaro. E, por esta via, influir sobre mais da metade do território brasileiro. Com número de habitantes: semelhante ao da totalidade dos australianos; perto do triplo da população da Suécia, da Bélgica, dos Emirados Árabes, de Portugal; próximo do quadruplo de todos os suíços, dos israelenses, dos austríacos; igual ao quíntuplo da soma dos libaneses; e próximo do sêxtuplo de dinamarqueses.
São mais de trinta e quatro milhões e seiscentos mil amazônidas, numa extensão de 5.015.067,749 km², dotada de valiosas riquezas naturais. Este tamanho faria da região o sexto maior país do mundo, se não tivesse desaparecido – por aderir ao Brasil, em 1823 – o gigantesco Grão-Pará, estado independente, instalado sobretudo ali, dentro do reino português, por mais de século e meio.
A região engloba 770 municípios – do Amazonas, Pará, Acre, Maranhão, Tocantins, Amapá, e, de Mato Grosso, Roraima, Rondônia, Goiás, – com marcas de uma História Cultural de mais de quatro séculos, na qual se misturam influências portuguesas, espanholas, francesas, italianas, judias, sírio-libaneses, norte-americanas, e, japonesas.
Contudo, nada disto vale nas discussões travadas sobre a Amazônia nos centros de poder do mundo e do Brasil.
É como se um dos países comparáveis em tamanho e população com esta Amazônia, pudesse ter seu destino selado, sem consideração de sua população, de sua História e cultura.
Nem o fim da Ditadura Militar alterou tal situação. Pois, após a aprovação da Constituição que reimplantou a democracia no País, o embaixador Rubens Ricupero tornou-se responsável pela região. E numa entrevista à Isto É, declarou: “A população amazônica se sente desconsiderada porque, no Exterior, e, no Sul do Brasil, as pessoas se interessam apenas pela floresta e pelos índios”.
Com esta aberração, a Amazônia brasileira poderá, um dia, libertar-se de seus problemas?
(Ilustração: máscaras de São Caetano de Odivelas, no interior do Pará)