Equivocadamente, há quem pense que a dimensão física de um ser humano é aquela que mais facilmente pode ser descrita. Não é. Cada detalhe físico de uma pessoa – seus olhos, por exemplo – tem inúmeros aspectos, relacionados a tamanho, cor, brilho etc, impossíveis de serem completamente esgotados numa descrição. Aliás, um redator se mostra competente ao produzir uma descrição exatamente quando em meio a inumeráveis detalhes consegue se limitar apenas aos mais significativos.
Por outras vias, se pode captar como são as pessoas em outra dimensão, a ideológica. Ideias se manifestam através de comportamentos. Não só verbais. Por exemplo, o religioso excessivamente intolerante no modo de julgar os seres humanos manifestará isto em sua maneira de agir, no tipo de roupa que usa, nas imagens que fixa em paredes de sua casa. E, naturalmente, naquilo que diz. Já uma pessoa interessada em se mostrar moderna, aberta às ideias novas, fornecerá outras pistas.
A dimensão que se capta com maior dificuldade é, sem dúvida, a psicológica. Isto porque permanece sempre na penumbra de cada ser. No entanto, em relação a ela cabe a aplicação de uma frase considerada como verdadeira pela corrente filosófica marxista: a de que uma pessoa é aquilo que ela faz. Isto é, se alguém age sempre de um jeito generoso o mais provável é que seja generosa, mesmo. Embora qualquer ser humano possa tentar controlar o que as demais pessoas pensam a seu respeito, agindo de maneira a disfarçar os aspectos de sua personalidade considerados inconvenientes ou reprováveis. Porém, um bom observador percebe o disfarce. E esta percepção, por si só, torna-se de grande valor informativo sobre a dimensão psicológica daquela pessoa.
Há quem precise observar pessoas para criar personagens. Sobre este tipo específico de observação foi realizado um estudo profundo na USP. Nele ficou demonstrado: estes profissionais são muito atentos aos dados autorreveladores transmitidos por meio das linguagens não verbais. Como, os que se escondem por detrás das razões pelas quais alguém sorri, os silêncios que entremeiam suas conversas, as distâncias físicas que mantêm com seus interlocutores, os modos como os tocam, os tons de voz com os quais falam.
Também se valem dos dados transmitidos não-verbalmente quem se expressa em linguagem visual, quando cria personagens. Alguém tem dúvida de que na criação de suas personagens femininas, em ilustrações enriquecidas com bordados, como a da imagem que acompanha este texto, a artista tailandesa Aii Doknommeaw se vale do que capta através dos olhares, das expressões faciais, das posturas e dos gestos – as outras linguagens não-verbais?