A ascensão internacional do pintor paulista Lucas Arruda, de 38 anos, é um fato. Tanto que, em abril, ele abre uma exposição em Paris, na galeria do prestigiado marchand alemão David Zwirner, após ter ocupado (em 2019) o museu Fridericianum, em Kassel, onde se realiza a Documenta, principal mostra da Alemanha. Antes, a partir deste sábado, 19, quem ainda não conhece sua pintura tem uma oportunidade de atestar a qualidade do trabalho de Arruda. Sua exposição Lugar sem Lugar, que tem curadoria de Lilian Tone, será aberta no Instituto Tomie Ohtake com 70 pinturas produzidas nos últimos 15 anos, sendo as mais recentes as telas realizadas este ano.
A exposição vem da Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, mas ganha novos contornos no Tomie Ohtake, ocupando duas salas do instituto, uma delas com uma projeção na parede da figura virtual de um quadrado que se sobrepõe ao modelo real da figura geométrica, criando um jogo ambíguo entre físico e metafísico. A escolha do quadrado não foi ditada pelo modelo de uma série que ocupou 25 anos da vida do alemão Josef Albers (1888-1976) – dos anos 1950 em diante – na qual investigou a expansão da cor por meio de quadrados sobrepostos. "Mas bem poderia ter sido, embora Albers não seja uma escolha consciente", observa Arruda.
O pintor, que foi assistente de Paulo Pasta há uma década, tem pelas escolhas do mestre um apreço considerável. Pasta, por exemplo, voltou à paisagem, após anos de abstração, motivado pelo amor à história dos artistas da escola de Barbizon (Corot, Daubigny, Millet), um movimento de pintores do povoado de mesmo nome, na região do bosque de Fontainebleau, na França, que não abdicou do compromisso realista mas também não renegou a visão romântica da natureza. "A escola de Barbizon, claro, tem um papel importante na minha pintura, que não está atrelada apenas ao século 19, como aos contemporâneos", diz Arruda, concluindo com uma longa lista de pintores do século 20 que o marcaram, do venezuelano Armando Reverón (1889-1954) à canadense Agnès Martin (1912-2004), cujas telas evocam o vazio das planícies e o espaço da interioridade.
A curadora Lilian Tone selecionou pinturas de Arruda que justificam essa filiação. De olho em Reverón, Arruda investiu no embate entre a afirmação da pintura feita sob a luz tropical, que cega, e a tradição europeia do chiaroscuro. De Agnès Martin, ele se inspirou em suas telas abstratas de linhas e grades coloridas de modo suave, sutis, quase monocromáticas. A série Deserto-Modelo, do pintor brasileiro, é composta de telas com espaços vazios que podem representar nuvens – carregadas ou não – separadas da terra por uma tênue linha do horizonte.
Faltou mencionar dois outros pintores do panteão de Pasta e Arruda: o italiano Giorgio Morandi (1890-1964) e o ítalo-brasileiro Alfredo Volpi (1896-1988). A presença de Morandi ecoa nas paisagens com edificações de arquitetura europeia (Lucas Arruda viveu um tempo em Siena, Itália). A de Volpi está na transformação da paisagem por meio da luz e de um jogo tonal que o levaria à abstração geométrica.
Se as paisagens de Morandi são marcadas por uma sensação familiar, ao retratar casas ao longo da Strada Maggiore ao lado de seu ateliê, na via Fondazza, Bolonha, as de Lucas Arruda, ele revela, têm igualmente essa recorrência de um lugar da memória – no caso das pinturas da Mata Atlântica, a casa do pai, o jornalista Roldão Arruda, na Barra do Una, litoral norte de São Paulo, onde passou a infância. São pinturas verticais que contrastam com a horizontalidade das demais séries, como a das praias, pela qual seu nome ficou conhecido. Embora sugiram um horizonte amplo, são telas de pequeno formato. Mas de alto valor: algo a partir de US$ 100 mil, segundo a galeria do artista, Mendes Wood.
Lugar sem lugar
Instituto Tomie Ohtake. Avenida Brig. Faria Lima, 201 (entrada pela Rua Coropés, 88), tel. 2245-1900. 3ª a dom., 11h/20h. Obrigatório uso de máscara. Grátis. Até 17/4
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>