A vida de Benedito Nunes se constituiu numa trajetória exemplar de sábio brasileiro. Nascido na Amazônia, ele se tornou um dos mais importantes filósofos e críticos de arte de nosso tempo, no país. Sua importância foi reconhecida através dos prêmios que ele recebeu da União Brasileira dos Escritores, da Academia Brasileira de Letras e do jornal O Estado de São Paulo.
Nunes morreu no último mês de fevereiro. Mas deixou impressa a aula com que abriu um ano letivo da Universidade Federal do Pará. Nesta aula, Nunes esboçou um panorama atual das ciências. Afirmou que, hoje nenhuma ciência se constitui mais num universo isolado de conhecimentos. Pois, profundas mudanças aconteceram tantos nas Ciências Exatas, como nas Humanas, levando a reformulações críticas de seus conceitos e de seus métodos.
Nunes lembrou, que hoje físicos se interessam por Biologia, Antropólogos por Linguística e Psicanálise. E estes interesses – afirmou – submeteram as ciências a confrontos críticos. Da crítica à crise, prosseguiu, não há senão um passo.
De fato, as ciências, disse ele, padecem de uma crise de fundamentos que se prolonga na crise dos métodos. Mas isto, segundo Nunes, tem um aspecto positivo porque tudo passa a ser revisto, num movimento geral de reconceitualização.
Esta crise geral corresponde a um estado crítico e saudável, intelectualmente. Mas, gera incômodo e desconforto mentais, pois a perda dos velhos paradigmas das ciências não foi compensada pelo surgimento de novos paradigmas. Estamos numa “época da suspeita”, concluiu Nunes.