Quem leu o livro de Regina Zappa sobre Chico Buarque, publicado na coleção “Perfis do Rio”, editada pela Relume Dumará, em 1999, ficou encantado com o modo como a jornalista soube descrever o ídolo brasileiro. Um modo – resumidamente – simpático, mas não adulatório. Íntimo, mas não escandaloso.
Onze anos depois, a Revista Alfa Homem, da Editora Abril, estampou na sua edição de fevereiro último, a foto do rosto de Chico, com seu olhar colorido, e, todas as rusgas que lhe trouxeram quatro décadas criativas. Uma chamada de capa anunciou: “A volta do malandro Chico”. Leve irreverência aceitável pelo jogo de palavras com a letra da música “O malandro”, escrita por Chico, 33 anos atrás.
Quem leu o perfil jornalístico de Chico, assinado por Regina Zappa, depois de ter lido aquele livro, ficou frustrado e indignado. No perfil com fotos – estendido por dez páginas daquela edição da revista – a jornalista hábil, sensível, observadora, revelada no livro, reuniu algumas poucas novidades sobre a fase atual do artista. E apresentou suas observações e sua descrição de Chico, feitas para o livro, mais de uma década atrás, como se as tivesse acabado de fazer, de modo exclusivo para Alfa. Usando, às vezes, as mesmas palavras.
De fato, nada de essencial como acréscimo àquilo que já era conhecido sobre Chico, a revista trouxe. Por conseguinte, o leitor de Regina pagou duas vezes pela mesma mercadoria. E, o que é pior, numa transação na qual ele havia confiado na vendedora.
Sérgio Ruiz Luz, o editor de Alfa, inicialmente considerou “grave” a indicação de que sua revista pudesse ter publicado matéria requentada. Escreveu: “As fotos e entrevista que publicamos com o Chico são inéditas e foram produzidas especialmente para nossa publicação”. Depois, baixou um pouco o tom. Considerou apenas “injusta” aquela indicação. E se resignou com a possibilidade de Alfa ter veiculado somente “uma série” de “informações novas”. Portanto, não mais o longo perfil anunciado na capa da revista. Escreveu: “Temos na capa do Chico uma série de fotos e informações novas. Por isso, acho injusto chamar o trabalho publicado de requentado.”
Já a própria Regina forneceu a seguinte explicação: “Para que o retrato do artista fosse completo como era necessário, entraram vários fatos e acontecimentos anteriores a essa última entrevista”. Vários fatos – ela deixou de acrescentar – que já tinham sido usados no livro de 1999.
Na editora que publica Alfa, até há alguns anos, a mudança de penteado de um artista era suficiente para que todas as fotos dele, guardadas em arquivo, fossem consideradas desatualizadas, portanto, sem valor jornalístico. A editora procurava, então, o fundamental no Jornalismo: o dado novo, isto é, a informação. Não procura mais, hoje?
Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP