Costuma-se dizer que um escritor recém premiado pode se dedicar com mais tranquilidade – financeira, que seja – à escrita da obra seguinte. Não foi o caso de José Luiz Passos. Autor de “O Sonâmbulo Amador”, o melhor romance do 2.º Prêmio Brasília de Literatura, ele tenta, há mais de um ano, receber os R$ 30 mil prometidos. Não que tenha sido fácil aos premiados das demais categorias. Foi exigido, deles, a emissão de nota fiscal, e isso causou rebuliço. Se a entrega oficial foi em abril, o dinheiro só começou a ser depositado, depois de muito barulho, no final de junho. Mas não o de Passos.
Professor de literatura na Universidade da Califórnia, ele vive há duas décadas fora do Brasil. Esse pode ter sido um dos entraves. Depois de uma troca frenética de e-mails, uma solução foi sugerida pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal e ela recebeu, em agosto, a documentação pedida e o recibo assinado. De lá para cá foi um silêncio total. De passagem pelo Brasil agora, o autor retomou o assunto, mas foi orientado a aguardar.
Procurado pela reportagem, o órgão respondeu, em nota: “Não há na Secretaria de Cultura do DF um processo formal de pagamento do 2º Prêmio Brasília de Literatura ao senhor José Luis Passos, embora não tenhamos dúvida de seu direito em receber os R$ 30 mil devidos (…). No entanto, este prêmio foi totalmente organizado no ano passado e as pessoas encarregadas da produção do evento não estão mais na Secretaria de Cultura. Vamos instaurar um processo administrativo de reconhecimento de dívida e, após os trâmites, será realizado o pagamento, sujeito à disponibilidade dos recursos públicos.” Não há previsão de duração desses trâmites.
Para o escritor, vencedor também do Portugal Telecom, “o conflito de informações, a inconsistência dos procedimentos e a demora no pagamento são um enorme desrespeito a qualquer cidadão”. E conclui: “Eu me sinto um idiota, perdido, literariamente falando: dentro de um conto de Kafka”.
No Paraná, a situação também é complicada. Vanessa Barbara, Sônia Barros e Adriana Griner ainda esperam os R$ 40 mil que ganharam em novembro. Coordenador do Prêmio Paraná de Literatura, Omar Godoy diz que o Estado passa por reestruturação financeira e que o valor está empenhado. “O que falta é a liberação dos recursos por parte da Secretaria, o que pode acontecer a qualquer momento, mas não há previsão exata”, diz. “Em vez de incentivo à produção, esse tipo de incidente deixa a impressão de que realmente literatura é algo sem importância, um luxo desnecessário, e dívidas com prêmios seriam coisas extras que nem precisam ser honradas. Espero receber esse valor, senão vou ter que acampar no Palácio Iguaçu”, diz Vanessa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.