Variedades

A conexão de Igor Prado com a velha-guarda da soul

Aos 33 anos, o guitarrista Igor Prado tem feito história. Em março e abril de 2015, ele e sua Igor Prado Blues Band viram o disco “Way Down South” chegar a um lugar inédito para uma banda fora do território norte-americano. O álbum foi o mais executado nos Estados Unidos, conforme conferiu a respeitosa medição Living Blues Chart.

Depois disso, Igor teve o mesmo disco indicado para a 37.ª edição do Blues Music Awards na categoria revelação – único sul-americano a ter tal indicação. Quem acabou vencendo, e com justiça, foi o bluesman do Mississippi de 40 anos, Mr Sipp. Mas Igor tocou, ao lado de gigantes do gênero, na abertura desse que é o maior evento de blues no mundo, produzido pela companhia que cuida do Grammy. Depois disso, tudo mudou.

Antes que todo o barulho do brasileiro surpreendesse os norte-americanos – algo como se a Lapa do Rio de Janeiro reconhecesse as qualidades de um grupo de samba vindo da Rússia -, Igor já havia conhecido o tecladista austríaco Raphael Wressnig. Os dois nomes fora do eixo acabaram se unindo para lançar agora um disco que testa os novos limites. “As coisas mudaram da água para o vinho depois do BMA”, conta Igor Prado.

The Soul Connection talvez seja, depois de Texas Bound, que Nuno Mindelis lançou em 2007, o primeiro disco brasileiro de blues feito sem demérito algum quando comparado a grandes discos de blues dos Estados Unidos. E não se fala só de técnica. Está bem gravado, mas muito melhor tocado.

Igor bate agora na porta dos nomes da soul da velha escola e os coloca na frente de uma base consistente feita pelo irmão baterista Yuri Prado e pelo baixista Rodrigo Mantovani, além de sua guitarra e das teclas de timbragem Hammond de Wressnig.

A faixa Trying to Live My Life Without You, que abre o disco, está ali para homenagear um dos grandes da soul music, Otis Clay. O próprio iria cantá-la se não tivesse morrido vítima de um ataque cardíaco em janeiro último, aos 73 anos. A música é título de seu primeiro disco, de 1972. Em seu lugar, veio outro tubarão da fase intermediária da soul, Willie Walker, que teve a carreira reacendida nos anos 90.

O segundo soulman do disco responde por David Hudson. E, com ele, a história sai do eixo mais uma vez. Hudson, um homem grande e de voz com longo alcance, que lançou poucos discos na carreira, mas é capaz de pedir uma mulher da plateia em casamento durante seus shows, estava, assim como Igor, em um festival da cidade de Porretta, na Toscana, Itália. Um improvável festival tradicional de soul music que não encontra similar nem nos Estados Unidos. Foi lá que os primeiros contatos foram feitos para que Hudson emprestasse sua voz para o disco de Igor Prado.

Quando canta o cover Turning Point, de Tyrone Davis, sua voz vai muito na onda de Robert Cray. Ou é a voz de Robert Cray já ia na onda de Otis Redding.
Um terceiro elemento é Leon Beal, figuraça que se apresenta em ternos coloridos e canta Dont Cry No More bem mais rápida do que a versão de Bobby Bland, por exemplo. Quase vira rock and roll.

São nas instrumentais que aparece o Hammond B3 de Raphael Wressnig. Ele tem volume e força para estar à frente, mesmo quando aparece em Heartbreak, apoiando Willie Walker. Eleito entre os cinco maiores organistas de blues por três anos consecutivos nas listas da revista Down Beat, Wressnig ajuda Igor Prado a subir mais um degrau na busca pela excelência de um blues autêntico porque não é filho de lugar nenhum. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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