Nas últimas semanas os jornais e as revistas têm sido pródigos na oferta deste tipo de texto aos seus leitores. Parece que os veículos de comunicação estabeleceram entre si uma espécie de disputa na área do Jornalismo Investigativo. Uma publicação divulga um caso comprometedor, em seguida, outra rebate, com nova denúncia. Chama a atenção, porém, a concentração das investigações na Casa Civil da Presidência da República.
Essa fixação do interesse jornalístico na mesma área da administração pública, no entanto, é natural e previsível, numa fase de liberdade de imprensa no país. Qualquer leitor de jornal sabe que, numa fase assim, a pessoa que se apresente, diante da opinião pública, com a pretensão de ocupar um posto-chave no comando do país, inevitavelmente, levará a imprensa a examinar sua atuação anterior. Como a candidata à presidência favorecida nas pesquisas de intenção de votos, saiu da Casa Civil, é nela, mesmo, que devem concentrar sua atenção os melhores repórteres investigativos do país, segundo as regras do chamado jogo democrático.
Contudo, os apreciadores dos textos do Jornalismo Investigativo não devem esquecer algo próprio da natureza deste jogo: nele, estão representados os mais variados interesses, e, não apenas os da maioria da população. E, como alertava Karl Marx, numa sociedade dividida em classes sociais, como a nossa, os interesses dominantes são os da classe social dominante, à qual pertencem, obviamente, os proprietários dos jornais e revistas. Eles, por sua vez, entretanto, não sobrevivem a não ser abrindo um largo espaço em suas publicações também para os interesses de seus leitores, supostamente pertencentes à classe social da maioria da população.
Portanto, os textos de Jornalismo Investigativo, ora em circulação no Brasil, nascem de uma situação complexa e cheia de nuances, para a qual os leitores devem dedicar muita atenção. Nela, estão inseridos ainda o preocupante protagonismo que o presidente Lula, com insistência, busca para ele mesmo, nas eleições, e, por fim, os interesses dos próprios repórteres. Estes profissionais se alimentam de ousadia, mas não fogem à sina do empregado. Convivem obrigatoriamente com a instabilidade dos humores de seus patrões.
Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP