Após a reportagem exibida no programa Fantástico da Rede Globo, que revelou como se fraudam licitações na área de saúde, no Estado do Rio de Janeiro, na compra de materias hospitalares por instituições federais, o mundo político se mexeu. Tem deputado pedindo instalação de CPI na Câmara Federal, o Ministério da Saúde suspendendo compras, gente falando em moralização etc etc. Como se tudo aquilo que foi mostrado fosse novidade no mundo das contas públicas. A única diferença é que foi gravado e exibido na maior rede de TV do país em horário nobre.
Vinte anos atrás, Fernando Collor de Mello, hoje senador, sofreu um processo de impeachment por causa dos mesmos problemas mostrados agora. Superfaturamento de materiais voltados à área de saúde e distribuição de propina à rodo. Desta vez, entretanto, passa-se a impressão que a corrupção se instalou nos hospitais cariocas e é promovida pelos próprios servidores encarregados das compras. Sabe-se que o buraco é muito mais embaixo e extrapola o Rio de Janeiro e tem sim a participação de muita gente graúda.
A questão que pouca gente aborda é que a corrupção se profissionalizou. Dificilmente, apesar de alguns ainda escorregarem e só serem flagrados quando a mídia decide ir a fundo atrás de algumas denúncias, um ministro, governador, prefeito ou secretário se expõe diretamente. O serviço sujo fica por conta de pessoas de extrema confiança dos chefetes, encarregados da arrecadação. Tanta é a facilidade para encher os bolsos com o dinheiro alheio que a corrupção se espalhou, avançando pela máquina pública. Hoje não é difícil enxergar gente desqualificada, mas nomeada em cargos importantes ou nem tanto, passando o chapéu para se dar bem em qualquer negociação que envolva dinheiro público.
Assim, taxas de corrupção, que se limitavam a 10% dos contratos, conforme é de conhecimento público, hoje extrapolam em muito esses valores.
Desta forma, as empresas que prestam serviços ou vendem produtos para o poder público superfatura os valores, de forma que quem paga é ninguém menos que a própria população. Trata-se de uma prática nojenta, instalada em nosso país, sem que se possa vislubrar – em curto prazo – formas para debelá-la. A onda de moralidade espalhada pelo Fantástico dificilmente superará o próximo domingo. Basta surgir um novo motivo para uma reportagem de impacto, que pode ser sobre uma musiquinha qualquer que ganhou o mundo, para que todos se esqueçam das câmeras flagrando os corruptos. Lamentavelmente, isso é o Brasil.