Mundo das Palavras

A DESCOBERTA DE DIANA

Confira a coluna semanal Mundo das Palavras, assinada pelo jornalista e professor doutor Oswaldo Coimbra

Há quem acredite que o mais intenso prazer colocado pela natureza e pela sociedade ao alcance de uma pessoa consiste numa mistura de apaixonamento com sexo. Quem puder experimentá-la talvez consiga fazer uma espécie de descoberta metafísica. Não propriamente a da intensidade com que uma pessoa determinada pode amar outra, atendidas àquelas duas condições. Pois, neste caso, a descoberta valeria somente para uma pessoa. Mas a da intensidade com que um ser humano qualquer – apenas por acaso representado por certa pessoa – pode amar outro. Neste caso, a descoberta adquiriria valor universal.

Somente uma profunda necessidade de fazer uma descoberta assim, quase metafísica, pode mover uma atleta como a jornalista e escritora norte-americana Diana Nyad.

Aos 25 anos, Diana se tornou a nadadora mais rápida entre as atletas que já haviam disputado uma competição de 35 quilômetros, conhecida como Percurso Bay Naples, nos Estados Unidos. Aos 26, nadou 45 quilômetros, ao redor da Ilha de Manhattan, Nova York, em pouco menos de oito horas. Aos 29, se atirou nas águas de uma praia, a 80 quilômetros de Havana, em Cuba. E cobriu a espantosa distância de 122 quilômetros, nadando por 42 horas. Mas não chegou a Key West nos Estados Unidos, como queria, devido a rajadas de ventos fortes.

Desta frustração ela se compensou, no ano seguinte, estabelecendo recorde mundial na natação em águas abertas. Nadou 164 quilômetros, em 27 horas e meia, entre o Norte da Ilha de Bimini, nas Bahamas e Juno Beach, na Flórida.

Depois disto, Diana parecia ter optado, em definitivo, por uma rotina mais tranquila. Tornou-se escritora de livros sobre natação, jornalista do The New York Times e da Newsweek, fez palestras, montou uma empresa para orientar mulheres com mais de 40 anos, em seus exercícios físicos.  

No entanto, aos 61 anos de idade, surpreendentemente, Diana retornou aos treinos. Comprou uma casa na ilha caribenha de St. Maarten e recomeçou a nadar. Inicialmente, conseguiu nadar durante oito horas seguidas. Depois, 10, 12 e 14 horas. Quanto conseguiu nadar com facilidade por 20 horas seguidas, ficou desidratada e se sentiu muito cansada. Mas não desistiu. Tinha em mente algo aparentemente impossível, para uma mulher sexagenária: obter êxito na proeza tentada trinta anos antes – a de nadar entre Cuba e os Estados Unidos.

Fez quatro ensaios. E todos fracassaram. Por motivos físicos e climáticos como dores no ombro, perda de fôlego, ataques de água-viva, tempestades e ventos fortes.

No último dia de agosto deste ano, aos 65 anos de idade, ela fez sua quinta tentaviva, a partir de Cuba. Cinquenta e seis horas depois, chegou a Flórida. Tinha o rosto deformado por causa dos lábios inchados no contato prolongado com o sal do oceano. Mas estava em transe, seu olhar revelava. Idosa, havia, por fim, descoberto os  limites máximos de resistência de um ser humano lançado às águas num rio ou num oceano.

Última informação sobre esta mulher admirável: ela sofre de asma.  

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