Mundo das Palavras

A dor de ser brasileiro

Coluna semanal do jornalista, doutor em Comunicação Social e professor Oswaldo Coimbra
Poucas pessoas se animaram a sair de casa, na capital paulista, na noite que se seguiu à disputa travada entre as seleções do Brasil e da Alemanha, na Copa do Mundo. As que saíram puderam ver a dor profunda suportada pela população do país naquele momento, impressa no espaço físico quase vazio da importante via pública da grande cidade.  Sim, era uma dor profunda o que àquela altura afetava o ânimo dos brasileiros. Algo muito diferente e maior do que a frustração natural sentida por torcedores diante da derrota de seu time. 
 
Em primeiro lugar porque nossa Grande Imprensa havia abdicado por completo da moderação a que era obrigada na análise das possibilidades de êxito dos atletas brasileiros preferindo engrossar irresponsavelmente o coro dos otimistas sem fundamento. Nossos jornalistas influentes simplesmente haviamdeixado de lado a necessidade de preparar a população para uma eventual derrota do nosso selecionado, emboranossa seleção evidentemente se ressentisse da imaturidade de muitos dos seus jovens integrantes cujo comportamento durante a Copa havia exigido acompanhamento de psicóloga profissional. E váriosoutros fiascoscom já tivessem ocorridos anteriormente com nossos representantesem outros campeonatos internacionais. O que, aliás, não significou desonra, pois,é próprio das disputas nos esportes, que vitórias e derrotas se sucedam, umas dando sentido às outras. 
 
Em segundo lugar porque o novo fracassoocorreu num instante em queo país atravessa fase pouco brilhante de sua produção econômica. Tendo, ainda assim, investido montanhas de dinheiro na preparação da Copa com construção de estádios e vias de acesso. Isto é, na preparação do cenário de sua própria humilhação diante do mundo imposta pelo resultado daquela partida. 
 
Em resumo, numa involuntária atitude de perversidade consigo mesmo,o país fez enormes gastos dos valiosos recursos reservados ao atendimento das necessidades essenciais de seu povo nas áreas de Educação, Saúde e Habitação apenaspara,ao fim e ao cabo de tudo, sertraumaticamente humilhado.Como num pesadelo, oêxito comprovadamente obtido com a realização da Copa pelo Brasil, manifestado pela atenção conquistada para o evento entre populações de países espalhados pelos quatro cantos do nosso planeta, deixou de ser uma glória a ser lembrada na História dos nossos esportes. E se tornou a culminância da crueldade autopunitivaque, ironicamente com muita competência, massem sabermos, estávamos nos impondo, a fim de que ninguém no mundo deixasse de assistir ao massacre dos nossos jogadores.
 
Por isto, naquela noite, a Avenida Paulista não foi a costumeira pista de exibição da alegria paulistana quando ocorrem grandes sucessos coletivos da cidade. Tampouco foi o espaço para desabafo comunitário deindignação contra o comportamento de nossosmaus políticos. Ela era apenas um soturno cenário de rostos marcados por amargura, perplexidade, desemparo e angustia. Como os que exibiam ospoucos policiais, funcionários de hospitais, bares e livrarias das imediações que, solitários e desanimados,cruzavam a famosa via pública. 
 

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