Desde a quarta, 28, rola no Espaço Itaú de Cinema a mostra Arq.Futuro. São 20 filmes que pensam o mundo com foco na arquitetura. Alguns abordam diretamente o tema e procuram decifrar a vida e a obra de arquitetos como Sérgio Bernardes, Frank Gehry e Villanova Artigas. Outros proporcionam abordagens ficcionais sobre o espaço urbano e o modo de se viver nas cidades. São filmes como o Casanova de Fellini, naquela Veneza fantasmagórica, a Paris meio futurista de Playtime, de Jacques Tati, ou a São Paulo sombria de Cidade Oculta, de Chico Botelho.
Há uma cena de Playtime em que M. Hulot, o personagem emblemático do francês Tati, se coloca meio à margem, dentro da imagem. A cidade vira um imenso carrossel e ele fica olhando o fluxo dos carros. A cidade desumanizada – prédios de vidro, aço, muitos carros. Tati construiu sua cidade em estúdio – e faliu, de tão cara. Hoje, poderia filmar em qualquer metrópole, na própria Paris. Anos antes que Gianfranco Rosi fizesse Sacro Gra, sobre o grande anel viário que cerca Roma – e o filme lhe valeu o Leão de Ouro em Veneza, 2013 -, o mexicano Juan Carlos Rulfo, em 2006, já impressionara o júri de Sundance, recebendo o prêmio de documentário por En el Hoyo. O filme, que está na mostra, é sobre operários que vivem numa via elevada da Cidade do México.
Visto recentemente numa programação dedicada a Thom Anderson, Los Angeles Plays Itself é um ensaio sobre como o cinema retrata a cidade. E The Competition, do espanhol Angel Borrego Cubero, usa o concurso para a criação do Museu Nacional de Andorra para retratar os bastidores dos maiores escritórios de arquitetura do mundo. Não é coisa que interesse somente a arquitetos. A verdade é que a arquitetura é essencial no cinema – na arte. Você já ouviu falar, e muito, na arquitetura dramática de peças e filmes. Abstraia-se das imagens de Veneza, com seus canais, de Los Angeles com suas largas avenidas e becos sombrios (tão propícios ao noir). Toda experiência cinematográfica nutre-se da arquitetura.
Ambas se constroem no espaço, e no tempo. No cinema, disse o renomado crítico Jean Mourlet, tout est dans la mise-en-scène. E o que é a mise-en-scène, o ato de direção, senão o olhar do autor sobre o homem no mundo, representados pelo ator e seu cenário. Pode ser uma casa, cidade, pradaria (como no western). Excluídas certas experiências de natureza mais abstrata, o cinema, ficcional ou documentário, busca decifrar o mundo por esse olhar sobre o ator e seu cenário, o homem e seu espaço.
Quantas vezes você já ouviu que, genial como era Oscar Niemeyer, sua arquitetura plástica, monumental, serve mais aos olhos e aos sentidos do que à praticidade de quem deve desfrutar dela? The Human Scale, de Andreas M. Dalagaard, um dos destaques da programação, discute justamente essa escala humana. O documentário segue a equipe do dinamarquês Jan Gehi, com seus projetos urbanísticos que privilegiam ciclistas e pedestres. A mostra segue até dia 5. Repensa a cidade. Um tema decisivo nesse fim de semana de eleição municipal.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.