Opinião

A ética do futebol e a relação direta com nossas vidas

Que grande parte dos brasileiros é apaixonada por futebol, não há dúvidas. Homens, mulheres, adultos ou crianças, de alguma forma ou outra, fanáticos ou não, sempre demonstram preferência por um time.

Mesmo que à distância, vira e mexe, o que acontece no Campeonato Brasileiro se reflete na sociedade. Neste fim de semana, o torneio mais importante do País terá mais uma rodada decisiva. Dos três times com maiores chances de conquistar o título, dois – Corinthians e Cruzeiro – empatados na segunda posição se enfrentam neste sábado. Quem vencer segue com maiores probabilidades de levantar o caneco e terá que seguir torcendo contra o ainda líder Fluminense.

E é justamente neste ponto que o Brasileirão alimentou grandes polêmicas nesta semana. O time carioca, por ter um ponto a mais que os rivais, depende unicamente de suas forças para chegar ao título. Basta vencer os quatro compromissos que tem pela frente e correr para o abraço. Já Corinthians e Cruzeiro, além de se dar bem no confronto direto, torcerão pou um tropeço do rival. Só que o Fluminense enfrenta nas próximas semanas ninguém menos do que São Paulo e Palmeiras, dois clubes que – devido à disputa natural entre as torcidas – não teriam motivo algum para ajudar o Corinthians.

Desta forma, atletas dos clubes envolvidos, além da imprensa especializada, alimentaram os noticiários nesta semana justamente em relação à possível facilitação dos clubes paulistas para deixar o caminho livre para o tricolor carioca faturar o título e deixar o rival do Parque São Jorge sem qualquer conquista no ano em que comemora seu centenário. Assim, pela lógica, o Corinthians – por mais que se dê bem nas próximas partidas – naufragaria.

Entretanto, em nome da ética, alguns jogadores, como o atacante do São Paulo, Fernandão, vieram a público garantir que seu clube de forma alguma facilitaria a vida do Fluminense. Por mais que a partida entre os dois tenha pouca importância para o tricolor paulista, o clube do Morumbi deve entrar em campo para vencer, independente deste resultado ajudar o maior rival no Estado. Ele chamou a atenção para o espírito esportivo, garantindo que os profissionais não são mercenários e que precisam jogar sempre por resultados positivos.

O coro foi engrossado por outros profissionais. Porém, sem a mesma energia, o que deixa no ar a possibilidade de realmente ocorrer uma facilitação para o clube carioca. Nesses momentos, vale sim trazer o tema futebol à luz dos debates em relação à formação de valores morais de nossa sociedade. Vale mais a rivalidade entre os clubes? Qual o valor maior do esporte para a vida das pessoas? Seria ético um time entregar um jogo apenas pelo fato de ver um desafeto se dar mal? Tudo isso faz parte de um jogo maior?

Não importam as respostas. Cada um, torcedor ou não, tem suas convicções em relação ao esporte, ao futebol e à própria vida. Vale sim pensar um pouco sobre tudo que cerca esse debate no sentido de tentar saber o que queremos para nossas vidas e de nossos filhos. Que vença o melhor ou aquele que pode se dar bem em relação a um conjunto de resultados, diante das regras expostas? A vida imita o esporte ou o esporte imita a vida?

Ernesto Zanon é jornalista e diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos
twitter.com ZanonJr

Posso ajudar?