Estadão

A Europa pode ter recessão; e os EUA, estagflação, afirma Barry Eichengreen

A invasão da Ucrânia pela Rússia poderá levar os dois países à depressão econômica, a Europa à recessão e os EUA à estagflação em 2022, comenta em entrevista exclusiva ao <b>Estadão/Broadcast</b> (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) Barry Eichengreen, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley. Na opinião dele, provavelmente Vladimir Putin cortará o fornecimento de gás ao Velho Continente, o que provocará racionamento e abalará a confiança dos consumidores.

Eichengreen, porém, discorda da visão de que a pandemia e a guerra selaram o fim da globalização. "Não acredito que terminou, mas está com um resfriado. A China é o grande ator da globalização do século 21 e pode manter suas relações comerciais e financeiras em todo o planeta", diz. A seguir, os principais trechos da entrevista:

<b>Em um contexto de invasão militar longa na Ucrânia, é possível que em 2022 a Rússia e a Ucrânia sofram uma depressão econômica; a Europa, uma recessão; e os EUA, estagflação?</b>

Sim, para todas estas questões. Não seria surpreendente que, neste ano, a economia russa contraísse 10% e que a inflação subisse para 30% ou 40%. O que acontecerá na Europa Ocidental dependerá do fornecimento de gás russo, e cada vez mais é provável que os países da região deixarão de recebê-lo. Provavelmente, o que os países europeus farão é dizer que continuarão recebendo o gás da Rússia, mas o dinheiro será depositado em uma conta na qual o Kremlin não poderá ter acesso até que a guerra termine. Quando isso acontecer, Putin interromperá o fluxo de gás para a Europa Ocidental, o que exigirá o racionamento do combustível pelas fábricas de diversos setores, o que prejudicará a confiança do consumidor. Será cada vez mais difícil acreditar que a Europa escapará da recessão neste ano, mas dependerá das ações das autoridades do continente para reduzir o risco de ingressarem nela, sobretudo com políticas fiscais e monetárias apropriadas. A Europa pode viver uma ampla recessão, e a Ucrânia e a Rússia enfrentarão um desastre econômico. Os EUA terão algum tipo de estagflação. O Fed agora começa a se mover mais rápido, mas está muito atrasado para combater a elevação dos preços.

<b>O que a Europa pode fazer para evitar forte recessão?</b>

Como os juros reais estão bem negativos na Europa, pode ser adotada uma política fiscal expansionista para auxiliar as pessoas mais atingidas pelo aumento dos custos de energia. Podem também ser implementados mais subsídios para investimento em tecnologia verde, acelerar a transição do gás importado da Rússia para outras fontes, ações que estimularão a economia. É apropriado empregar a política fiscal como resposta a emergências.

<b>O senhor avalia que os EUA crescerão 2% este ano? A inflação repetirá a alta de 7,9% do CPI de 2021?</b>

Acredito que a inflação baixará nos próximos meses, mas ainda ficará entre 5% e 6% em 2022. Cecilia Rouse, a principal conselheira econômica do presidente Biden, destacou alguns fatos encorajadores sobre a melhora do funcionamento das cadeias internacionais de produção. Acredito que a demanda vai moderar um pouco à medida que o Fed aumente os juros e diminua a poupança extra acumulada pelas famílias durante a pandemia. A rapidez do crescimento da economia americana dependerá do que ocorrer na Europa e na China. Eu acredito que os EUA ainda podem crescer um pouco mais rápido que 2%.

<b>O que o senhor espera da gestão da política monetária pelo Fed?</b>

Os Fed Funds poderão atingir 2,5% até dezembro. Mesmo que a inflação caia e fique em 4% em 2022, com taxas de juros nominais em 2,5% ou 3,0%, os juros reais negativos ainda estarão negativos e a política monetária será relativamente acomodatícia. Em um ambiente de taxas de juros mais altas, o mercado de ações provavelmente se ajustará, e os malucos criptoativos também sofrerão. Mas tal alta de juros não deverá interromper o crescimento e a recuperação dos EUA.

<b>O presidente Biden destacou que o progresso da China está muito mais conectado ao Ocidente do que à Rússia. Será que o líder chinês, Xi Jinping, concorda?</b>

Para a China, as relações econômicas com o Ocidente são mais importantes do que com a Rússia. Talvez no momento possa ser mais atraente para o presidente Xi distanciar-se política e diplomaticamente do Ocidente e se aproximar da Rússia. Mas a China não poderá adotar um caminho econômico para um lado e tentar seguir o rumo político em outro.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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